Naqueles belos anos todos cantavam ; o João
Maria Tudela, a Emissora Nacional, o Rádio Clube… Beatriz Costa, Maria de
Lurdes Rezende…e quando cansados de tanto cantar na Rádio, vinham alguns reclames tipo, “Tide a lavar e eu a descansar”…
E chegava, enfim, o que mais ansiávamos: Os Parodiantes de Lisboa! “Patilhas e Ventoinha”
marcaram para sempre a minha meninice…
Televisão, Internet, tecnologias que hoje nos
são habituais, nem sequer imaginar…
Telefone não existia para a nossa classe; íamos
a casa de uns e outros sem prevenir nem hora marcada; éramos recebidos com a
naturalidade dos familiares bem-vindos…
De quando em vez, ouvia-se cantar o fado; por
vezes numa rara telefonia… Mas, na maioria dos casos, eram vozes bem conhecidas;
a minha tia Celeste era uma delas!
E eram as incessantes corridas entre putos;
partiam da avenida da Bélgica, davam a volta ao quarteirão, passando pelo Beco
da Adega e, por vezes, atravessavam a “avenida” sem carros. Cruzavam por vezes
velhas carrossas com rodas em “cauthcu” que as tornavam um pouco mais
silenciosas.
Ao fim do dia, quase ao anoitecer, era tempo de começar as
partidas: tocar às campainhas, atirar lixo contra as montras, desafiar capicuas
(guardas republicanos a cavalo), levar de “cavalo marinho” para alguns, “curtir”
como se diz hoje em dia.
Foi a minha meninice no Barreiro; tinha então
todos os seres amados, entretanto desaparecidos, de que tenho todas as saudades do Mundo!
Bordeaux, 25 de Fevereiro de 2016
JoanMira
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