13.3.12

Diz João Lemos Esteves: "Sr. Presidente Cavaco Silva, o que ainda anda a fazer em Belém? - crónica de um desastre presidencial"



1.É oficial: desisto. Desisto de defender e tentar explicar o comportamento político de sua Excelência, o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva. Aos primeiros dislates de Cavaco Silva, os portugueses reagiram com indiferença ou até bonomia (ai, este Cavaco é sempre o mesmo!..). À medida que o tempo decorre, confirmou-se que Cavaco Silva não tem habilidade nem sensibilidade alguma para exercer as funções presidenciais: remete-se ao silêncio quando o país precisa de ouvir a voz presidencial - e quando fala, diz asneiras. Este é, pois, a imagem de marca da presidência de Cavaco Silva: quando se cala, os portugueses anseiam por ouvi-lo; quando fala, os portugueses imploram para Cavaco se calar! Portugal - a viver uma situação tão complexa! - merecia e exigia mais, muito mais!
2.Desta feita, Cavaco Silva lembrou-se de escrever, em prefácio ao sexto livro dos seus "Roteiros", que José Sócrates é o principal responsável pela crise em que vivemos, sendo o rosto de um período negro da História política portuguesa. O ex- primeiro-ministro fez orelhas moucas aos constantes alertas de Cavaco Silva sobre a crise económica e financeira, revelando sempre um enorme desrespeito institucional. Das duas, uma: ou Cavaco Silva gosta de brincar com os portugueses ou então não tem sentido do ridículo! É que a análise de Cavaco é certeira: José Sócrates foi um primeiro-ministro lunático, arrogante e levou o país a dar o passo decisivo para o abismo. Mas, quem era o Presidente da República em funções? Jorge Sampaio? Apenas durante os primeiros meses da era Socrática. Durante seis anos, quem esteve em Belém com José Sócrates em São Bento? Ora...nada mais...nada menos...que Cavaco Silva! A infantilidade do nosso Presidente da República é não perceber que as críticas que faz a José Sócrates têm um efeito boomerang - e atingem politicamente o próprio Cavaco Silva. De facto, o PR deu cobertura política e institucional a todas as diabrites políticas e governativas de José Sócrates: as leis foram promulgadas por Cavaco Silva, até as mais irresponsáveis. Recorde-se, inclusive, que nos primeiros anos do governo de José Sócrates, Cavaco Silva não se continha nos elogios à determinação do líder do PS - e os cavaquistas renderam-se à obstinação de José Sócrates (Dias Loureiro apresentou, em tom mais que elogioso, a biografia do "menino de ouro" do PS!). Nunca Cavaco silva ousou conter a loucura do governo socialista e até inventou o episódio das "escutas a Belém" para liquidar a liderança de Manuela Ferreira Leite - e desta forma manter o PSD afastado do poder, salvando José Sócrates. Publicamente, Cavaco Silva recusou-se sempre a criticar José Sócrates, afirmando sempre que exercia o seu poder moderador nas conversas semanais que mantinha com o primeiro-ministro. Estas conversas foram tão boas, tão eficientes, que Cavaco Silva tem necessidade de - volvido um ano do fim da era socrática! - de criticar o primeiro-ministro e de asseverar que este é um troglodita que não foi capaz de o ouvir! No fundo, Cavaco Silva auto-declarou a sua impotência e a sua incompetência no exercício das funções presidenciais. Já não há dúvidas: com Cavaco ou sem Cavaco em Belém, o país não vai mais além. Para quê sustentar este Presidente? Comparado com Cavaco, até o Almirante Américo Tomaz era um presidente excelente e habilidoso! A partir de agora, o título honorífico de "Presdiente corta-fitas" vai passar para...Cavaco Silva! Muitos parabéns, senhor Professor.
3.Por último, há que mencionar que - mais uma vez - o objectivo de Cavaco Silva foi exclusivamente pessoal: ele quer dissociar-se de um período trágico e altamente irresponsável da História portuguesa. Para tal, sentiu a necessidade de criticar José Sócrates. Por outro lado, fez um frete a Passos Coelho, que, na sexta-feira, sorriu largamente: enquanto se discute e se fala de José Sócrates, o governo Passos Coelho passa por entre os pingos da chuva, sem se molhar. Cavaco Silva será recordado como o presidente das fitas e dos jogos políticos sem sentido. Depois desta, a tragédia para a República portuguesa seria ir Durão Barroso (outro político impotente!) para Belém...
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