A Guiné-Bissau está a ferro e fogo desde o ataque, no passado domingo, ao quartel de uma unidade de elite das forças armadas, que fez sete mortos. Está em curso uma "caça ao homem", denuncia a Liga Guineense dos Direitos Humanos, organização que descreve uma "perseguição total no país".
De acordo com a Liga, uma das vítimas desta perseguição é Iancuba Indjai, porta-voz da Frenagolpe, coligação de partidos, que foi detido por homens armados a meio da manhã de ontem na sede do PAIGC. Foi brutalmente espancado e "enfiado na bagageira de um carro".
Indjai terá sido detido porque uma das viaturas usadas no ataque pertence ao ex-secretário de Estado, Tomás Barbosa, também membro da Frenagolpe (Frente Nacional Antigolpe de Estado desencadeado a 12 de abril). Foi ainda detido Bitchofla Na Fafé, um ex-comissário de polícia considerado próximo do ex-primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior.
Estão também a ser perseguidas pessoas ligadas ao PAIGC (Partido Africano de Independência da Guiné e Cabo Verde, no poder até ao golpe).
A Liga afirma à Lusa estar a receber, a cada minuto, chamadas de pessoas apavoradas, que estão a buscar refúgio para se resguardarem e não serem atacadas por indivíduos armados". "Vive-se num clima de medo generalizado", adianta o presidente da organização, Luís Vaz Martins.
Governo exige extradição de ex-primeiro-ministro
Entretanto, depois de ter acusado Portugal, a CPLP e o ex-primeiro-ministro guineense de promoverem a violência em Bissau, o Governo de transição da Guiné-Bissau exige a Lisboa a extraditação urgente de Carlos Gomes Júnior.
Em declarações à TSF, o ministro da Comunicação do Governo transitório da Guiné-Bissau não exclui a hipótese de o antigo primeiro-ministro estar também envolvido no ataque ao quartel.
O ex-primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, atualmente a residir em Lisboa, é acusado de ser um dos promotores "desta tentativa de desestabilização, cujo objetivo é derrubar o Governo de transição".
O Executivo entende que não se tratou de "uma revolta interna dos militares mas sim de elementos estranhos às Forças Armadas", afirmou ontem o ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo de transição, Faustino Imbali.
ONU e CPLP apelam à calma
A ONU condenou ontem o ataque a base militar e apelou à calma. Em comunicado divulgado na segunda-feira, o gabinete do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, afirma estar a "acompanhar a situação de perto".
Também a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) condena "com veemência" o "uso recorrente da força militar" na Guiné-Bissau, lamenta "a perda de vidas humanas, e apela a um "diálogo político inclusivo" para garantir "o retorno à normalidade constitucional e à busca de uma solução duradoira para os problemas que afetam o país".
Num comunicado divulgado ontem, a CPLP reitera a disponibilidade da instituição em "apoiar a Guiné-Bissau nos seus esforços para a restauração plena da legalidade e ordem constitucional em prol do desenvolvimento socio-económico".
A Liga Guineense dos Direitos Humanos defende uma "peritagem insenta" aos incidentes da madrugada de domingo.
De acordo com a versão oficial, o ataque liderado pelo capitão Pansau N'Tchamá - que está a monte - provocou sete mortos, sendo seis de nacionalidade senegalesa, presumivelmente mercenários contratados pelo militar.
Fontes na Guiné-Bissau, no entanto, admitem que tudo pode não passar de um ajuste de contas. Recorde-se que N'Tchamá, considerado próximo do ex-primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, liderou o comando militar que em 2009 assassinou o então Presidente Nino Vieira. De acordo com as forças de segurança guineenses, o militar regressou recentemente a Guiné, procedente de Portugal, onde se encontrava desde 2009 a receber formação militar.
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