A normalidade não costuma ser notícia, mas pode sê-lo quando surge ao fim de um longo período anormal. É o que se passa nas eleições autonómicas de hoje no País Basco, as primeiras desde que, a 20 de outubro de 2011, o grupo terrorista ETA anunciou que ia deixar de matar.
Este marco histórico não parece, porém, ter encorajado os cidadãos bascos a escolher um novo governo: ao meio-dia apenas 14,8% tinham votado, segundo dados oficiais; são menos 2,4% do que nas últimas eleições, em 2009.
Talvez o afastamento entre eleitores e eleitos também faça parte da tal normalidade.Há que dizer que as condições meteorológicas não ajudam. Há três dias que chove sem parar em todo o País Basco. Em San Sebastián, ainda assim, o Expresso assistiu (depois de divulgado o valor da participação) à formação de longas filas de eleitores em várias mesas de voto.
"Agora está a chover menos e as pessoas saíram da missa", explicou Jon Basarte, um eleitor, depois de exercer o seu direito. Admite, no entanto, que a ausência de terrorismo possa encorajar os votantes. Na escola do bairro Antiguo Berria, eram tantos que os membros das mesas e delegados dos partidos não tinham mãos a medir para orientar os eleitores.
"Tanta gente? Estarão a oferecer pintxos?", brincava um eleitor, referindo-se às pequenas espetadas típicas do País Basco.
Antiga Batasuna volta às urnas
"É possível que os adeptos da coligação Bildu façam aumentar a participação", diz a delegada do Partido Socialista na assembleia de voto. Refere-se à formação política herdeira da antiga Batasuna (braço político da ETA), que esteve excluída dos atos eleitorais desde 2002, quando o Parlamento espanhol aprovou uma Lei de Partidos que proíbe aqueles que não renunciarem explicitamente à violência.
A Batasuna nunca o fez; a Bildu sim, mas a sua candidata ao governo regional, Laura Mintegi, recusa-se a criticar a ETA. Os nacionalistas deverão ser maioritários no novo Parlamento: Bildu em segundo e, em primeiro, o Partido Nacionalista Basco, encabeçado por Iñigo Urkullu, provável futuro líder do governo (lehendakari, em basco).
Apesar de o risco de atentados ser reduzido - enquanto a ETA praticou o terrorismo era certo que em período eleitoral haveria mortos -, o governo basco manteve o aparato de segurança, com 5000 agentes. O único incidente relevante noticiado ocorreu quando o atual chefe do governo basco, o socialista Patxi López, foi votar. Invetivaram-no algumas pessoas com cartazes a favor dos presos da ETA.
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