Naquele ano e noite de graça de Mil novecentos e oitenta e qualquer
coisa, estava eu bem pacato e sossegado, no habitual balcão do Tony’s Bar,
quando um personagem, de olhos avermelhados, nariz inchado em batata, sorriso
cretino, manifestamente muito mais alcoolizado que eu decidiu, investido de crente
e divina missão, que devia ser eu o eleito para, “embrulhar” e desfazer assim as
suas magoas.
Naquele balcão comprido eu, que só tinha olhos para a empregada que
também era a dona, fui, pouco a pouco, lentamente mas inexoravelmente, com
lentas mas persistentes cotoveladas
empurrado sempre em silêncio, até ao limite do suportável e estremo do balcão. Ai
chegado e sem espaço para mais, resolvi, conciliante ainda, questionar o porquê
daquela atitude…
Claro que o borracholas só esperava uma palavra minha para por em
pratica os seus intentos… Logo ai iniciou grande e violenta verborreia onde,
pelo meio, não faltaram nem insultos nem grandes ameaças contra a minha pobre
integridade física. Claro que comecei a recear o que certamente me iria
acontecer e entendi dever ficar calado.
Mas o brutamontes cuja cabeça, em altura, ficava muitos centímetros
acima da minha, entendeu o meu silêncio como uma provocação suplementar;
tratou-me de tudo em que a palavra “cobardia” ganhava a todas as outras. Bem,
comecei também a ficar um pouco irritado; mas continuando sem nada dizer,
aceitando as humilhações no intuito de salvar a pele.
Atento, contudo, não deixava de avaliar a situação na esperança de, em
desespero de causa, lhe esborrachar a penca… Mas os insultos multiplicavam-se,
agora dirigidos aos meus pais e família. Pronto: tinha que ser; não podia
continuar sem reacção e virei-me, por fim face à besta. era o que ele esperava
e, numa ultima careta, vomitou a agressão anunciada…
Preparei a defesa; o animal então, certo da sua brutalidade, prepara um
murro monstruoso; recua, toma balanço, inclina-se para trás, e vai desferir…
mas, talvez efeitos da bebedeira, tanto quis armar, que perde o equilíbrio e
cai redondo de costas; bate com os tutelos traseiros no mosaico e vai para o
hospital!
Não levei, não esbocei um gesto, não bati, safei-me!
Rio de Janeiro, 18 de Junho de 2012.
JoanMira
Aucun commentaire:
Enregistrer un commentaire