1.11.12

Nem um só Governo de coligação resistiu à crise

A primeira AD resistiu 2 anos e 8 meses após a morte de Sá Carneiro. Freitas do Amaral precipitou queda. CDS ficaria duas décadas na oposição ©Lusa
Falta de entendimento e situação económica forçaram queda das alianças governativas antes do tempo. Lições da história assombram futuro de Passos Coelho e Paulo Portas.
Antes do actual Executivo, as quatro alianças partidárias criadas desde 1976 em Portugal deram origem a sete governos de coligação. Nenhum deles cumpriu o mandato de quatro anos na íntegra. A maioria PSD-CDS, liderada por Passos Coelho, tem pela frente o desafio de ser a primeira excepção a confirmar a média do fim das coligações aos três anos de ‘casamento’.
Dos partidos do arco do poder, o PSD é o mais experiente em governar em conjunto. Em 36 anos de democracia, por nove vezes formou Governo, com o PS ou com o CDS. Apenas nos três mandatos (10 anos) de Cavaco Silva governou sozinho. O PS, pelo contrário, tende a governar sozinho. O partido que venceu as primeiras legislativas da nova era constitucional foi sete vezes convidado a formar governo: só em dois momentos fez coligação com outro partido.
Primeiro, em 1978, Mário Soares convoca o CDS de Freitas do Amaral para um acordo que não durou mais de oito meses; da segunda vez, em 1983, convida o PSD de Mota Pinto a criar um Bloco Central para enfrentar o FMI_e o povo na rua a protestar contra a austeridade. As tentativas de entendimento de Soares e Mota Pinto não chegaram para evitar a queda do Governo em 85. Foi «a coligação mais necessária» da história das coligações, admite Ângelo Correia, ex-ministro e ex-dirigente do PSD.
António Costa Pinto, politólogo, recorda que «a coligação à esquerda foi grande impossibilidade da democracia portuguesa», para explicar o diferencial entre o PS e o PSD. «À direita as coligações foram-se sucedendo porque o sistema eleitoral não favorece maiorias absolutas».
O PSD chamou o CDS para o poder três vezes. Em 1980, Francisco Sá Carneiro toma posse num Governo de maioria de direita com Freitas do Amaral no segundo lugar da hierarquia. A coligação corria bem até à morte de Sá Carneiro. O então ministro adjunto, Francisco Pinto Balsemão, foi o nome encontrado para chefiar os dois Governos que tentaram segurar a AD: acabou por pedir a demissão em todos eles com base nos desentendimentos entre os dois partidos e nos pedidos de remodelações que não se concretizaram.
Ângelo Correia, que foi ministro da Administração Interna no segundo Governo de Balsemão e tem criticado o actual Governo, reconhece que a primeira AD foi «a mais coerente mesmo considerando aquelas que são as potencialidades e vulnerabilidades das coligações».
O_CDS ficaria 20 anos fora do poder. Até que, com Paulo Portas na liderança, os centristas aproveitaram a falta de maioria absoluta de Durão Barroso. A aliança de direita sobreviveu três anos, um dos quais com Pedro Santana Lopes à frente do Governo depois da saída de Barroso para a presidência da Comissão Europeia.
Ainda à direita, Portas e Marcelo Rebelo de Sousa ensaiaram uma coligação em 1998 com vista às eleições do ano seguinte: as europeias, em Abril, e as legislativas, em Outubro. O acordo não chegou a avançar e António Guterres foi reeleito.
ricardo.rego@externo.sol.pt

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