O Presidente da República não faltou aos prémios Gazeta. Isto não era uma piada, aconteceu mesmo. E não só marcou presença como deixou em Belém o fato tradicional de Ramsés II. Vestiu-se, desta feita, de comediante. Não estou com isto a mandar uma indireta à habitual e estranha escolha de gravatas do senhor presidente, que devo confessar que já me proporcionaram muitos momentos de felicidade e boa disposição. Não estava a ser literal, o 'vestir' teve a ver com o estilo de comunicação utilizado e não com a farpela escolhida para usar no evento.
Vejamos. "Todos sabem que o silêncio do Presidente da República é de ouro, hoje a cotação do ouro foi 1.730 dólares por onça, uma onça são 31 gramas, mais 1,7% do que a cotação do ouro naquele dia de setembro em que a generalidade dos portugueses ficou a saber o significado da conjugação de três letras do alfabeto português: "tê, ésse, u" (TSU)", afirmou Aníbal Cavaco Silva.
Senhor Presidente, ao seu estilo parodiante de Lisboa respondo com as palavras sábias de António Sala, um entendido em matérias de ouro. Reza assim: "eu sou o António Sala e vejo o mundo em cada vez mais crises financeiras (...)". Ora até aqui estamos todos de acordo, com a única diferença de António Sala fazer questão de dizer isto trezentas vezes ao dia na televisão e na rádio e o senhor presidente optar pelo silêncio dourado, conveniente e quentinho. Mas continuando: "as dívidas dos países crescem indefinidamente e criam um fardo insustentável para as gerações futuras (...)". De certeza que V. Exa. nada tem a ver com isto, até porque não esteve envolvido na política nos últimos 35 anos, muito menos em cargos que possam ter ajudado a criar este monstro imparável e glutão. Nunca foi Primeiro-ministro deste país, nunca foi reeleito para o cargo, não é o atual Presidente da República depois de reeleito. Enfim, é apenas um tipo silencioso que sabe que isso vale ouro.
"A instabilidade política alastra-se por todo o globo, o desemprego atinge níveis inimagináveis..." Pois, isso é que é pior, mas não dramatize, senhor António Sala. Senhor Presidente, ainda estamos com vontade de rir? Mas há mais: "e os governos imprimem cada vez mais moeda colocando os mercados financeiros em instabilidade permanente".'Satisfeitinho' com a cotação, senhor presidente? Sempre a subir, esta maluca.
Ora vamos à parte boa, em que António nos vai resolver o problema, salvar o mundo e comprar o seu silêncio, esperemos que para toda a eternidade (política, entenda-se) porque confesso que sempre me incomodou. E aqui vai: "por isso, meus amigos, fico muito preocupado, e cada vez que posso compro ouro em forma de moedas ou barras...". Óptimo António, esperemos que também possas comprar ouro em forma de esfinge.