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13.4.12

A esquerda ganha terreno em Franca

Salário mínimo de 1700 euros é uma das medidas prometidas por Jean-Luc Mélenchon
Não é o socialista François Hollande que mais encarna a mudança para os franceses nas eleições presidenciais, diz uma sondagem ontem divulgada. É certo que 53% dos franceses lhe atribuem esse papel, mas é em Jean-Luc Mélenchon, o candidato da Frente de Esquerda, que 60% pensam como o homem da mudança. É uma ajuda ou um entrave para Hollande?

O trotskista Mélenchon, que congrega na sua candidatura os comunistas, o seu próprio Partido de Esquerda e outras formações "à esquerda da esquerda", tem conquistado eleitores como se apanhasse flores num jardim: de Janeiro até agora, duplicou as intenções de voto.

Segundo a sondagem BVA para o jornal Le Parisien, 13% dos eleitores dizem-se decididos a votar por ele, mas alguns estudos de opinião dão-lhe 15%. Transformou-se no "terceiro homem" das presidenciais, que têm a primeira volta no dia 22, com um discurso inflamado e à esquerda, sem fazer concessões. A sua palavra de ordem é "tomemos o poder".

Mélenchon, um tribuno dotado e inflamado de 60 anos, incentiva à "revolta civil" e à "revolução cidadã". Faz referências múltiplas à história da Revolução Francesa, num discurso de retórica elevada em que cabem apelos à utopia e aos sentimentos, tudo temperado com um humor e ironia arrasadores. A Marine Le Pen, candidata do partido de extrema-direita e anti-islão Frente Nacional (FN), dispensa insultos sem dó: chama-lhe "morcego", "meia maluca", "presença negra", "besta suja a vomitar veneno"...

O seu manifesto eleitoral. O Humano Primeiro, tem propostas radicais: taxar a 100% todos os rendimentos acima de 360 mil euros anuais, salário mínimo de 1700 euros, sair da NATO e, claro, nem pensar em ratificar o mecanismo europeu de estabilidade do euro e a regra de ouro (criação de limites legais ao défice e à dívida de cada país, e de um regime de sanções).

Este ex-socialista e ministro da Educação de Lionel Jospin (2000-2002) foi fundador, com Julien Dray, da tendência Esquerda Socialista, que se opunha à abertura ao centro de Michel Rocard. A esta tendência foram assacadas culpas pelo desastre de 2002 - quando Jospin não passou à segunda volta das presidenciais, batido por Jean-Marie Le Pen, então líder da FN.

Mas em 2005, Mélenchon fez campanha pelo "não" no referendo sobre a Constituição europeia - contrariando a posição do PS. Juntou-se aos comunistas para defender o "não", que ganhou o referendo.

Hoje, perante um cenário de esquerda em refluxo na Europa, poderia pensar-se que Mélenchon seria um candidato do passado, com poucas hipóteses de singrar. Mas não foi nada disso que aconteceu, talvez por particularidades nacionais: por exemplo, 80% dos franceses dizem que a globalização está a acabar com os empregos e 70% acham que ajuda a aumentar o défice, revela uma sondagem IFOP publicada ontem no jornal La Croix.

Muitos franceses estão zangados com Nicolas Sarkozy, com vontade de mudar mas pouco entusiasmados com o socialista François Hollande, o "candidato normal". Por isso, entusiasmaram-se com Mélenchon e os seus comícios que o jornal Figaro (tendência próxima do Eliseu) descreve como "semelhantes às grandes missas tele-evangélicas" dos EUA.

François Hollande não estava à espera disto, embora conheça bem Mélenchon. Ele foi o seu rival no congresso de 1997, no qual foi eleito primeiro secretário do PS. Por causa da campanha de Mélenchon pelo não em 2005, não pôde candidatar-se à presidência em 2007 (Hollande liderava então o PS).

A partir de meados de Fevereiro, as perdas de Hollande são quase o espelho dos ganhos de Mélenchon: este passou de 9% para 15%, enquanto o socialista caiu de 32% para 28%. Hollande pede aos seus próximos que não ataquem Mélenchon, embora apele ao "voto útil".
PUBLICO

PPC mais papista do que o papa nos sacrificios impostos aos Portugueses


<p>Passos Coelho anunciou que os cortes do 13º e 14º meses irão durar mais do que estava previsto</p>

Troika não sabia do fim das reformas antecipadas e de cortes dos subsídios após 2013.
Ao que o PÚBLICO apurou junto de fontes próximas do processo, a proibição das reformas antecipadas decretada sem aviso pelo Governo apanhou todos de surpresa, inclusive a Comissão Europeia (CE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI). A troika não sabia nada sobre esta decisão do Governo e também ainda não analisou o impacto desta medida.

Do mesmo modo, o Executivo de Pedro Passos Coelho não tinha discutido com a CE e com o FMI a manutenção dos cortes dos subsídios além de 2013, bem como a sua reposição gradual. O programa da troika só tem definidas medidas e reformas até ao final do próximo ano e, embora haja metas de redução da despesa com salários até 2015, não tinham ainda sido discutidas as medidas para as atingir.

Na semana passada, foi publicado em Diário da República um documento decretando a suspensão imediata das reformas antecipadas. A medida entrou em vigor na véspera da Páscoa e prolonga-se até 2014, abrangendo todos os trabalhadores que descontam para a Segurança Social e que, a partir de agora, não poderão pedir reforma antes dos 65 anos. O Governo justificou a medida e a sua não divulgação pública com a necessidade de evitar uma corrida às reformas.

Além disso, o primeiro-ministro anunciou na semana passada que os cortes do 13º e 14º meses irão durar mais tempo do que estava inicialmente previsto. Segundo Passos Coelho, os subsídios não serão devolvidos antes de 2015 e a sua reposição será feita de forma gradual.

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