Libellés

26.5.11

ANEDOTA: JOSÉ SÓCRATES E O JOÃOZINHO


José Sócrates, numa das suas múltiplas visitas a escolas, numa delas considerada escola-modelo onde foi distribuir uns computadores aos professores, resolve pôr um problema às criancinhas.
(Desta vez, parece que não houve casting prévio...)
- Meninos, tenho um problema para vocês resolverem. Quem acertar na solução ganha um computador que eu ofereço!!!
Então, é assim:
Um avião saiu de Amesterdão com uma velocidade de 800 km/h; a pressão era de 1.004,5 milibares; a humidade relativa era de 66% e a temperatura 20,4 ºC. A tripulação era composta por 5 pessoas, a capacidade era de 45 lugares para passageiros, a casa de banho estava ocupada e havia 5 hospedeiras, mas uma estava de folga.
A pergunta é... Quantos anos tenho eu?
Os alunos ficam assombrados.
O silêncio é total.
A professora fica estupefacta.
Então, o Joãozinho, lá no fundo da sala e sem levantar a mão, diz de pronto:
- 50 anos, senhor Engenheiro!
José Sócrates surpreendido fita-o e diz:
- Caramba! Acertaste em cheio. Vou dar-te o computador! Eu tenho mesmo 50 anos. Mas como encontraste esse número?
E Joãozinho diz:
- Bem, foi muito fácil. Foi uma dedução lógica, porque eu tenho um primo é meio parvo, e tem 25 anos...

METAFONIA ESTÚPIDA

Vão haver acórdos, dissestes bem

            Três erros, um talvez menos grave do que os outros, mas todos ferindo um qualquer ponto sensível da nossa alma. Com raiva. Porque são constantes, os media utilizam, as pessoas repetem a cada passo, brinca-se na revista com os dislates de cariz popular ajavardantes, e os erros gramaticais vão-se insinuando cada vez mais fundo na língua, a ponto de pessoas com responsabilidade intelectual os utilizarem.
            Perdoa-se facilmente o calão, é até “porreiro” e muito “bem” usá-lo, mas certos erros de acentuação ou de morfologia dão imediatamente a noção de deficiente estudo gramatical na escola, de falta de leitura, da permissividade ao erro como estratégia pedagógica.
            É o caso do plural “acordos” cuja sílaba tónica tenho ouvido tantas vezes com o aberto. De facto, há em português inúmeras palavras que alteram no plural o timbre da vogal tónica, caso de “ôsso”/“óssos”, “sôgro”/“sógros”, “jogo”/“jógos”. A esse fenómeno fonético se chama “metafonia”, e, para amenizar a leitura destas notas, lembro António Gedeão, e a primeira estrofe da sua “Impressão Digital”, expressiva do conceito de relatividade próprio da diversidade humana: “Os meus olhos são uns olhos. / E é com esses olhos uns / Que eu vejo no mundo escolhos / onde outros com outros olhos / Não vêem escolhos nenhuns.” No exemplo citado, a sílaba tónica do plural das palavras olho e escolho, pronuncia-se com o aberto.
            O mesmo não acontece com o plural de acordo, piolho, bolo, namoro, piloto, estojo, etc. Há imensos exemplos de excepção à regra da metafonia, como se pode ver, por exemplo, na gramática de Celso Cunha e Lindley Cintra (“Nova Gramática do Português Contemporâneo”). Mas enquanto ninguém pensa em abrir o o tónico no plural de repolho, de lobo, de estojo, mais os outros exemplos citados, com o danado do “acordo” até advogados lhe abrem o o tónico no plural: acórdos. Não é. É acôrdos, acôrdos, acôrdos, irra! acôrdos!
            Os outros casos são constantes, ainda hoje ouvi na TVI o “vão haver” da nossa melancolia. Porque haver, significando existir, é um verbo impessoal, tal como nevar, chover, saraivar que ninguém pensa em conjugar nas várias pessoas, a não ser por metáfora: “vai haver”, “houve”, “haverá”, “há”, haja”, houvesse, “houver” ... ocasiões, factos, dias, tempestades, o que for, que esteja no plural, que serve de complemento directo e não de sujeito. É um verbo sem pessoa, sem sujeito, fica sempre no singular, como o il y a francês, il pleut, il tonne... É indigno esse erro!
            Bem assim a segunda pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo, que nunca leva s, ao contrário dos outros tempos verbais, com o s de proveniência latina: tu comes, tu estavas, tu dirás, queiras tu se puderes.... Resulta de um tempo latino do sistema do perfeito que não leva s na segunda pessoa do singular: fecisti > fizeste; fuisti > foste; dedisti>deste; amavisti> amaste.
            E já agora: Na segunda pessoa do plural do mesmo pretérito perfeito, ao contrário de outros tempos verbais em “eis” (fazeis (vós), fazíeis, fizéreis, fareis, faríeis, fizésseis não é -steis- (vós) amásteis, fizesteis, comesteis, dançásteis, fôsteis, etc, mas (vós) amastes, fizestes, partistes, fostes, na segunda pessoa do plural, de sujeito vós (Latim amavistis, fecistis, fuistis...)
            Como é possível que não se insista em combater estes erros e tantos outros no ensino básico?
            A língua é algo de precioso que deveríamos cultivar com amor e não acanalhar como fazemos constantemente. Merece o nosso respeito, segundo os acordos com o fechado que devíamos aprender todos, tal como bebemos o leite materno da infância. Mesmo que os vamos adaptando aos acordos linguísticos próprios da evolução das línguas, ou dos interesses políticos, que, todavia, deverão preservar o bom senso e o bom gosto em função de valores como  a decência. Se é que esta ainda conta.
                                                                                                                 Berta Brás