MÁRIO DUARTE - O JOGO
A derrota imposta pelo Braga ao Sporting, no regresso de Domingos Paciência ao AXA, ditou mais do que o desempate entre adversários que se equivaliam nos pontos, vitórias, empates, derrotas e golos marcados - passaram a partilhar os sofridos: definiu não só a troca de posição, ficando os arsenalistas na partida para a segunda metade do campeonato a defender o terceiro lugar que dá acesso à terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões da próxima época - com milhões de euros a dar peso à importância desse último posto no pódio da Liga -, como deixou os leões na dependência do milagre de recuperar onze pontos para o Benfica, nove para o FC Porto e três para o Braga, em simultâneo, para manter acesa a esperança de ainda lutar pelo título que, salvo esse milagre, vai fugir pela décima época consecutiva.
Era um jogo do tudo ou nada para Domingos e a sua equipa em construção. O técnico que ficou na história em Braga arriscou muito no seu regresso, mudou quase tudo - figurino táctico, jogadores e posições, perfazendo oito mudanças (só Rui Patrício, João Pereira e Onyewu se mantiveram nos seus lugares) - e não ganhou nada. Perdeu, de resto, quase tudo. A remota hipótese de ir até ao fim na luta pelo título e até, mesmo que à condição, o terceiro posto com janela para a Champions. Conhecedor profundo das características dos jogadores do Braga e da sua articulação e no primeiro jogo sem Van Wolfswinkel, a grande referência do ataque, Domingos reconfigurou a equipa e apostou no conhecimento dos ex-companheiros de João Pereira, Rodriguez e Evaldo. Inverteu o triângulo do meio-campo, abdicando do único pivô defensivo para colocar Matías Fernández no corredor central, no apoio ao estreante Ribas, recuando Elias e Schaars e apostando nos canhotos Insúa à esquerda e Capel à direita - escolha sustentada pelo estado febril de Carrillo nos últimos dias.
Do lado contrário, Leonardo Jardim não jogou na surpresa e manteve a identidade da equipa. O Braga entrou mais forte e a intenção de Domingos em "colar" Elias a Hugo Viana e Schaars a Mossoró, minando a construção de jogo arsenalista não foi bem sucedida, de início - até porque o esquerdino orquestrava desde terrenos mais recuados e o brasileiro apoiava o ataque de forma mais efectiva, fintando as marcações.
Rodriguez, que "sentou" Polga no banco, depois do Nacional, era vaiado com estrondo, mas ia mostrando porque fora recrutado no defeso como reforço pelos leões, enquanto Schaars, pelo sentido posicional e capacidade de construção de jogo, e Matías Fernández, o elemento mais influente na equipa de Lisboa, eram excepções à mediocridade que pautava a actuação dos crónicos candidatos ao título que acabariam por se ver demitidos dessa condição no final. Do outro lado, eram Viana e Mossoró a dar cartas, e Custódio a ganhar a luta a meio-campo. Era aí, de resto, que se disputava grande parte do jogo, com muita pressão, sobretudo do Braga, a impedir que as jogadas se definissem para criar perigo junto de qualquer das balizas. Foi nesta toada de equilíbrio e incerteza, configurando-se o nulo como mais provável resultado final, que se chegou ao intervalo.
Matías sacudiu o jogo logo a abrir a segunda parte, ao sentar dois defesas e atirar ao poste. O criativo chileno viu, então, o solitário e desamparado Lima fintar a marcação, fugir para a direita e cruzar para o corte fácil de Onyewu ou João Pereira... que deixam passar para Hélder Barbosa agradecer a oferenda e castigar os leões com o golo que os forasteiros acusaram em demasia. A tímida reacção esboçada foi traída em definitivo pouco depois, quando Mossoró ganha a bola a Rodriguez no seu meio-campo e lança Lima, imparável sobre João Pereira "matar" o jogo e arrumar com a discussão do vencedor.
Ainda entrou Carrillo, para acompanhar Matías a fazer estragos na defesa bracarense - e marcar o golo do Sporting, também nascido de um erro crasso (no caso, de Quim). Foram erros de palmatória que fizeram o resultado, aproveitados com propriedade pelos autores dos golos, mas ainda houve tempo para retomar alguns antigos, como Rui Patrício ao cair do pano. Esquecendo as lições de Paços de Ferreira, Zurique e Vila do Conde, agarrou um atraso - que, ontem, como os do passado, também suscitava dúvidas - de Evaldo e sujeitou a equipa a novo livre indirecto na área, que não deu golo... porque defendeu o remate de Hugo Viana.
O Sporting repete os 28 pontos da época passada por esta altura, o Braga vira o meio do campeonato com mais 11. Nada e... tudo mudou.
Aucun commentaire:
Enregistrer un commentaire