E agora? Agora é só uma questão de tempo até Passos Coelho cair. Um Passos sem visão estratégica perante o seu país e a própria troika, sem coragem para tomar as decisões mais difíceis (ainda que nos iluda do contrário), um mero liquidador de impostos que nem chegaram para abater no défice e que recusou a oportunidade que a troika lhe deu de mudar a face do país. Quem rezará por ele? Talvez só Miguel Relvas.
O contrato mínimo de confiança de Passos com os portugueses rompeu-se aos bocadinhos numa só semana. Primeiro com a intervenção ao país de 7 de Setembro. Depois com a mensagem serôdia no Facebook. Ontem com os impostos para os mais ricos anunciados por Vitor Gaspar, que as classes médias já só conseguem ver como alibi para o governo lhes atirar a bazooka fiscal para cima, não fazer reformas profundas em todas as áreas do Estado e afrontar, a bem ou a mal, os interesses corporativos que pululam por todo o lado, no sector das Forças Armadas, da Saúde, da Justiça, da Energia, das PPP, do SEE, da administração central e local.
Mas mesmo perante o Apocalipse, os jogos políticos não páram. De Paulo Portas. Da matilha laranja. Que pede mudanças para que tudo fique na mesma e não se façam verdadeiras rupturas no regime.
Paulo Portas já afia o dente. Até o lobby da RTP apelou ao seu patriotismo e ele aproveita. É como patriota (já sem rebuço de o dizer) que se mantém reservado, convoca a Comissão Política e o Conselho Nacional do partido. Para dramatizar e sair de lá ainda mais patriota. Irá, claro, manter o apoio à coligação por amor a Portugal. Não será ele a dar o tiro fatal a Passos, porque espera ganhar com este ato de misericórdia.
Mas até lá fará perceber ainda mais ao povo que está contra a violência fiscal e as privatizações ao desbarato mas que nada pode fazer porque é só um pequeno partido de dois dígitos com pouco valor.
Esperará, sim, que a matilha social-democrata que já se atirou a Passos devore por inteiro este homem que morre sem glória para a política laranja quase como nasceu, a jogar para positivos e negativos numa mesa de King em Vila Real.
Paulo Portas pensa que chegou finalmente a sua hora. A hora em que o CDS vai aproximar-se na casa dos 20% do PSD nas próximas eleições legislativas (que podem ser ainda primeiro que as autárquicas). Se não ultrapassar mesmo os social-democratas... Fazendo ao PSD o que o Syriza grego fez aos socialistas do PASOK
Só há um pequeno problema nos planos de Portas. A matilha social-democrata que vai matar Passos quer provar aos portugueses que nunca gostou do líder do PSD, nunca se misturou com ele e que prestou um grande serviço ao país ao abatê-lo.
Espera, claro, recompensa nas urnas... como partido regenerado que cortou com o passadismo, seja com Rui Rio, Morais Sarmento, Paulo Rangel ou mesmo Alexandre Relvas...
No fim, ganhe este novo PSD ou o PS de António José Seguro (que alinha com o actual sistema e não apresenta alternativas credíveis), o país está sempre entalado
Sem um vendaval na vida política portuguesa antes que seja tarde, novos partidos, novos actores políticos e sociais, novas propostas e rupturas, isto já não vai lá. Talvez uma coisa à islandesa, ou à egipcia.
Vitor Gaspar apelou ontem na SIC à formação de movimentos cívicos para lutar contra os interesses que cativaram o Estado. É a primeira vez que um ministro e um político o diz em Portugal com tanta clareza. E é o espelho da impotência do governo, prenúncio do que aí pode vir. Portugal pode estar à beira da sua Praça Tahrir
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