A contestação dos portugueses não tem estado à altura da austeridade imposta, o que não significa que, «de um momento para o outro, não lhes salte a tampa», considera a Plataforma 15 de Outubro, em vésperas de nova manifestação.
«Há que dizê-lo com clareza: Portugal está muito atrasado, se comparado com a Grécia ou Espanha. A contestação dos trabalhadores não tem estado à altura das medidas impostas, mas isso não quer dizer que, de um momento para o outro, não lhes salte a tampa», afirmou à Lusa André Esperança, membro da Plataforma 15 de Outubro, que hoje apelou à mobilização de todos portugueses na manifestação de sábado.
No entender do jovem de vinte e cinco anos, a manifestação ‘Que se lixe a troika! Queremos as nossas vidas!’, que terá lugar em Lisboa, é uma «boa oportunidade» para os portugueses «saírem em força à rua e dizerem 'não' a mais austeridade», que não passa de «um roubo descarado para quem trabalha».
«’Que os portugueses são mansos, que o povo é ignorante e que gosta de ser mandado'... Não concordo com esse discurso. Sempre que se diz que um povo está muito calmo, acontecem grandes surpresas. E os portugueses já mostraram que são capazes de surpreender», vincou o jovem de 29 anos, aludindo à manifestação de Março de 2012, que foi convocada pelas redes sociais e que juntou cerca de 300 mil pessoas na capital portuguesa.
André Esperança, que está desempregado desde Janeiro, quis deixar «bem claro» que a manifestação de sábado foi convocada por vários cidadãos, e que a Plataforma apenas é uma das várias organizações que têm estado a fazer «todos os possíveis» para mobilizar o maior número de pessoas.
Em comunicado, hoje divulgado, a Plataforma refere que as novas medidas de austeridade anunciadas na sexta-feira pelo Governo trarão «ainda mais desemprego – quase a atingir os 16 por cento -, precariedade, miséria, dívida, ou seja, mais dificuldades para o povo».
Entre as medidas anunciadas pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, está a subida em sete pontos percentuais (para 18 por cento) das contribuições sociais dos trabalhadores e a descida dos descontos feitos pelas empresas para a Segurança Social, que passam a ser também de 18 por cento, de modo a estimular o emprego.
«Na prática, os trabalhadores do sector público vão ficar sem dois salários e os do privado sem um. Estimular o emprego? Isso é uma falácia pura, essa medida não terá efeito nenhuma na criação de emprego. Quem beneficia, de uma forma clara, mais uma vez, são os patrões», contrapõe André, para quem estas medidas são «mais do mesmo».
No entender da Plataforma, a austeridade «não cessará» enquanto as pessoas não saírem à rua a defender os seus direitos e a exigir a saída da troika de Portugal: «Não temos nenhuma bola de cristal, mas andamos a avisar há mais de um ano que este saque não iria parar», frisou o jovem, formado em economia.
Sobre as alternativas que a Plataforma propõe, o jovem vincou: «Temos várias propostas. É óbvio que há sensibilidades diferentes mas há uma questão fulcral, com a qual todos concordam na plataforma: a necessidade de se fazer uma auditoria às contas públicas e, nesse tempo, suspender o pagamento da dívida».
Só assim «haverá dinheiro para pagar salários» e será possível evitar mais «cortes brutais» em áreas essenciais como na educação ou na saúde. «Estas medidas estão a ser utilizadas para pagar uma dívida que nós – trabalhadores, jovens, reformados – não contraímos. Uma dívida que não é nossa», enfatizou.
Lusa/SOL
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