15.9.12

Diz Baptista Bastos: "Vivemos em pleno terrorismo de Estado"


Escrevi, em outro local, e repito-o neste, que o ciclo Passos Coelho terminou com a declaração da última sexta-feira. A cabisbaixa confissão de derrota possui a dimensão de uma indignidade. O homem conduziu-nos à miséria e diz-nos, indirectamente, que não consegue resolver a embrulhada. Por outro lado, o dr. Vítor Gaspar, substituiu-o como emissário de desgraças: em lugares diferentes, Parlamento, SIC e "Diário de Notícias" avisa que a "austeridade" vai continuar e, até ao fim do ano, vamos levar com mais sarrafo.

Com aquela voz de caixeiro-viajante de uma casa de caixões, e no estilo barroco que nos deixa sonolentos, adianta: "Os portugueses estão dispostos a fazer sacrifícios." Ignora-se quem o autorizou a falar em nosso nome; mas creio que a afirmação, além de tola, é abusiva. O declínio deste Governo acentua-se; e, como em todos os casos semelhantes, o estrebuchar é extremamente violento.

A onda de protestos indignados que percorre, transversalmente, a sociedade portuguesa é de molde a deixar-nos preocupados. Se as manifestações se tornam imprevisíveis porque afastadas de estruturas orgânicas, então, não haverá controlo possível e as frase do dr. Gaspar transferir-se-á para o universo da anedota. Pensando a frio e depois de analisados os factos e os ditos, estamos perante terrorismo governamental. Como afirmou o prof. Freitas do Amaral, as decisões deste Executivo colocam-no na área da ilegitimidade. Perante isso, toda a reacção é admissível. O ressentimento, o rancor e o ódio cada vez mais alargados podem impelir para atitudes mais inquietantes. A ministra Assunção Cristas quase levou com um ovo numa sessão pública. E as cenas a que temos assistido comportam, em si mesmas, uma ira e uma cólera indomináveis.

A incompetência e a soberba do Governo quase não encontram defensores. E as repulsas não têm limites políticos ou partidários: procedem de todos os lados. Até aquele grave senhorito, Nogueira Leite, parece, tão lesto em apoiar Passos Coelho na campanha para a presidência do PSD e tão agressivo nos discursos e nas entrevistas, acaba de escrever, no Facebook, que, se lhe forem mais aos bolsos, "pira-se", é o termo por ele usado. Além de desprovida de pudor, a declaração fornece o retrato ético desta gente.

A sociedade está em turbilhão e as inquietações assumem aspectos que não devem ser ignorados. A dr.ª Manuela Ferreira Leite, na TVI, desmantelou todo o sentido deste Governo, fornecendo, também, a ideia do que pensa um importante sector do PSD. Por outro lado, já se torna impossível tapar as fissuras na coligação. E os prolongados silêncios de Paulo Portas são particularmente significativos. Em outros Governos, estes mutismos do dirigente máximo do CDS-PP, queriam dizer que as coisas estavam tremidas. Portas, dos políticos mais astutos e qualificados de que a Direita dispõe, percebeu que as inépcias e leviandades do parceiro de coligação terão, necessariamente, de se reflectir não só no CDS como nele próprio, pormenor que o horroriza, por poder molestar a sua reputação.

Todos os ministérios estão a ser assolados por vendavais de protestos. O da Educação, esse, dirigido por um antigo militante maoísta, convertido ao pífaro do neoliberalismo mais agressivo, tem demonstrado não apenas aterradora inaptidão como alucinante tendência para a mentira e para a omissão deliberada. Apesar de esta alteração pertencer aos domínios mais do carácter do que ao político, faz pena assistirmos à abdicação moral de um homem que construíra, através de livros e de intervenções públicas, uma relativa nomeada.

Não me parece que Pedro Passos Coelho consiga, com remendos e cerzidelas, mesmo com recuos e habilidades momentâneos, tapar os buracos imensos do Executivo. O homem falhou redondamente e, além do mais, é teimoso. Atribuem ao adjectivo "determinado" o que é, objectivamente, uma fraqueza de espírito. Passos e os seus não sabem o que fazem. E o dr. Vítor Gaspar, apontado como um crânio nas arquitecturas das Finanças e um economista fora-de-série tem-se revelado, através de um autoritarismo sem remissão, um burocrata com tineta para a graçola e muito menos o político e o técnico necessários.

Quando a nata da inteligência portuguesa caustica, de um modo e de uma forma tão violentos os percursos, as derivas e as insuficiências dos governantes, nada resta aos governados senão...

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