O grande argumento para as medidas apresentadas por Pedro Passos Coelho é que elas são feitas em nome do emprego. Porque reduz os custos do trabalho. É curioso que tal objetivo não tenha mobilizado os representantes dos empresários em sua defesa. A razão é simples: é uma falácia. A minha dúvida é se o governo acredita na sua própria mentira. E o dramático é que provavelmente acredita.
Apenas as Pequenas e Médias Empresas são o grande empregador do País. Tendo, em geral, poucos trabalhadores, o efeito desta descida será marginal. Não chegará, em empresas que vivem com enormes dificuldades, para criar qualquer um único emprego. Estas empresas estão no osso. Despedirão quem puderem despedir e não empregarão mais ninguém.
Vivendo a esmagadora maioria do mercado interno, é da situação económica que o emprego que criem depende exclusivamente. Aumentar os impostos sobre o consumo, como o IVA, e reduzir ainda o mais o poder de compra dos portugueses, com mais austeridade e perda de rendimentos, como se fez agora com o aumento dos descontos dos trabalhadores para a segurança social, é o crime que as está a matar. Nenhuma destas empresas fica a ganhar com a redução das suas contribuições para a segurança social quando esta é acompanhada por uma perda brutal dos rendimentos de quem lhes compra o que produzem ou vendem.
As únicas empresas para quem esta medida teria um efeito significativo seriam as de grande dimensão, com muitos trabalhadores e onde estes tenham um peso significativo nos custos. As empresas de distribuição, como a SONAE e a Jerónimo Martins, por exemplo. Acontece que também elas dependem do consumo interno. Não por acaso, a Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição veio a público dizer que "as medidas agora anunciadas pelo Governo irão certamente representar mais dificuldades para a vida quotidiana de milhões de portugueses, o que terá fortes repercussões para as empresas da distribuição, já a braços nos últimos tempos com quebras muito significativas nas suas atividades, e que se traduziu no encerramento de mais de 40 unidades e na eliminação de mais de 7.000 postos de trabalho". E estamos a falar de empresas que terão, com esta redução da TSU, um encaixe de milhões de euros. Mas não compensa. Só mesmo na página de Excel de Vítor Gaspar é que a economia funciona como se medidas destas não tivessem repercussões no consumo.
Menos consumo, menos emprego, mais falências. Qual é, para o Estado, o resultado destas medidas? Menos receitas fiscais e para a segurança social. Como se está a ver nos resultados deste ano. Ou seja, degradação da situação das contas públicas. Coisa que, se este governo fosse dirigido por pessoas capazes de aprender com os seus próprios erros, já se teria compreendido.
Serão os nossos ministros apenas estúpidos e teimosos? Em parte sim, em parte não. Há uma estratégia. Absurda e criminosa, é verdade. Mas é uma estratégia económica. E passa pelas empresas exportadoras e pelo anunciado empobrecimento dos portugueses. A isso irei amanhã.
Aucun commentaire:
Enregistrer un commentaire