O murro no estômago dado pela Moody’s e a segunda-feira negra das bolsas permitiram a Portugal acordar do conto de aldeia a que a manobra política para derrubar Sócrates reconduzira a evolução recente da economia portuguesa. A comunidade dos economistas e até a nova maioria descobriram subitamente que a saga especulativa global é um misto de block-buster servido pela CNN e do velho poema de Brecht que dizia, em versão livre, "primeiro eram judeus ou comunistas e não ligaste… quando foste tu já era tarde".
Quinze dias de novo Governo, duas reuniões europeias e a pressão sobre a Itália e a Espanha bastaram para que Portugal deixasse a luta política tipo Morgadinha dos Canaviais e se assumisse co-mo vítima menor de um Império Contra-Ataca da economia global.
É decisivo valorizar um consenso alargado em torno da necessidade de conjugar consolidação orçamental com concertação social e uma estratégia de crescimento.
A devoção ideológica liberal orgulhosa de ir além da troika, para além de acentuar uma espiral de austeridade e recessão, destruiria o maior capital político de Portugal relativamente à Grécia assinalado pela nova diretora-geral do FMI. A Grécia tem uma direita irresponsável e um ano de cobaia de receitas erradas. Portugal tem um programa de intervenção negociado pelo PS e a expetativa de um Governo sensato.
Quando é a Itália que está em causa, sempre com uma dívida pública maior do que a nossa, talvez chegue a hora da resposta europeia integrada que falta desde o início de 2010, quando Merkel achava que existia apenas uma periférica questão grega.
Os deuses ocultos dos mercados multiplicaram crédito fácil, desigualdades e produtos tóxicos. Em 2008, os Estados salvaram os banqueiros irresponsáveis e coletivizaram os calotes, mas a natureza do escorpião não perdoa… Bem vindos ao mundo real… Entre nós, o mais veterano político profissional no ativo foi no discurso de posse o rosto da ilusão tecnocrática para iludir a manipulação política. Agora que foi sujeito a uma penosa revisão do rating político, é tempo de tentar falar claro aos portugueses, incluindo aos que nele não votaram.
Eduardo Cabrita - Deputado PS
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