26.7.11

Do "orgulhoso" BENFICA sem estrangeiros à equipa sem lugar para portugueses

A assembleia-geral (AG) de 1 de Julho de 1979 ficou na história do Benfica. Nessa reunião, os sócios votaram pela mudança e isso queria dizer que a partir desse dia o clube podia contratar jogadores estrangeiros.
O primeiro foi Jorge Gomes. Quando chegou à Luz, o brasileiro foi recebido por Humberto Coelho, Shéu, Bento e Toni. "Depois de mim, veio tudo, toda a gente", conta. Havia melhores futebolistas estrangeiros mas a escolha recaiu no possante avançado do Boavista. Agora, 32 anos passados desde a chegada de Gomes, a equipa de Jorge Jesus arrisca-se a alinhar na esmagadora maioria dos jogos sem nenhum português na equipa principal. Outra data para a história.

Jorge Gomes estreou-se a 29 de Agosto de 1979, quando substituiu Chalana, aos 72 minutos no jogo com o V. Setúbal. Mais de três décadas depois, na última vez que os benfiquistas defrontaram os sadinos, a 6 de Fevereiro deste ano, para o campeonato, César Peixoto foi o único português na formação "encarnada" (Carlos Martins entraria na parte final).

Sem Peixoto nem Martins esta época, essa "missão" fica para o guarda-redes Eduardo e para o médio Rúben Amorim, os resistentes portugueses, mas estes dificilmente terão um lugar na equipa titular - o primeiro deverá ser suplente do brasileiro Artur, o segundo tem uma série de opositores pela frente na luta por um lugar (o uruguaio Maxi Pereira, o argentino Enzo Pérez e até o brasileiro Bruno César).

A média de portugueses na equipa do Benfica tem caído nas últimas décadas (ver caixa) e, em dez anos, de quatro titulares estrangeiros passou para nove na última época - a excepção virou regra. Fábio Coentrão e Carlos Martins eram os habituais utilizados, mas já não moram na Luz esta temporada.

Toni recorda-se dessa manhã, quando Jorge Gomes chegou à Luz. Era Mário Wilson o treinador e Toni um dos capitães. Antes dessa AG histórica dos "encarnados", recorda ao PÚBLICO o antigo médio benfiquista, a ausência de estrangeiros era "ponto de honra", o "orgulho" que agora já não faz sentido. Diz que tudo mudou com o fim das colónias portuguesas em primeiro lugar e a entrada em vigor do Acórdão Bosman anos mais tarde. "Transformou o futebol europeu e mundial, e muito o português".

O também antigo técnico do Benfica diz ainda que foi o Acórdão Bosman - que permitiu que os futebolistas, que são também considerados trabalhadores comunitários, não fossem impedidos de jogar noutro país da União Europeia por normas internas da UEFA e das respectivas federações nacionais de futebol - que abriu caminho a uma "revolução". Mas não se sente nostálgico do seu tempo.

Toni lembra também que, há um ano, Portugal colocou três equipas nas meias-finais da Liga Europa (FC Porto, Sp. Braga e Benfica). Um feito que se deveu, em muito, a jogadores estrangeiros capazes de contribuir, em muitos casos, com acréscimos de qualidade nos plantéis em que alinham. "Mística é ganhar", diz. Uma verdade que destaca num mundo futebolístico cada vez mais competitivo.

Mas apostar menos nos jogadores portugueses também tem custos e deixa o recado: enquanto a selecção vai agora vivendo às custas de Cristiano Ronaldo, daqui a uns anos pode ressentir-se.

Público

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