30.3.11

Estranhos negocios e feitiçaria na embaixada de Portugal em Paris


Daniel ribeiro
Jornalista
contact@lusojornal.com

As duas histórias que hoje vos conto
até parecem ficção. No melhor pano
cai a nódoa, por isso saliento que a
maioria dos diplomatas portugueses
não tem comportamentos idênticos
aos aqui descritos - conheço aliás vários
diplomatas “a sério”. Mas, como
são duas historietas a um tempo ridículas
e cómicas, cabem bem nesta
série de “histórias tristes”. E, numa
escola francesa de jornalismo,
aprende-se esta máxima com a qual
concordo: quando um avião tem uma
avaria em voo a notícia deve ser sempre
divulgada, quando chega ao destino
sem problemas não é preciso,
quando não se verificam incidentes
não é notícia.
. O adido da Embaixada de Portugal
ganhava, como os seus colegas, à
volta de dez mil euros por mês, mais
subsídio para a casa.
Mas, como queria ficar rico em pouco
tempo – a sua missão, pensava, era
curta, de apenas três anos – meteuse
em inacreditáveis negócios paralelos
na capital francesa. Comprava
carros usados e expunha-os junto ao
passeio da porta principal da Embaixada,
na zona de estacionamento
privativa do corpo diplomático, na rua
de Noisiel, em Paris, com o anúncio
“à venda” e um número de telemóvel,
o dele, no pára-brisas.
Quando deu conta dos expedientes,
no mínimo invulgares, do adido, o
embaixador aborreceu-se com o seu
atrevimento: às vezes, o seu motorista
nem encontrava lugar para parar o
automóvel oficial nos escassos espaços
reservados! Proibiu-o então de estacionar
os carros para venda na área
diplomática. Mas, espantoso, não o
castigou nem o impediu de prosseguir
com aquele comércio bem pouco
diplomático.
Contrariado por deixar de fruir de estacionamento
à borla bem à mão e à
porta do seu local de trabalho, o
conselheiro continuou – com um
pouco mais de dificuldades, claro,
porque não havia, nem há, estacionamento
gratuito naquela zona de Paris
– com o negócio de compra e venda
de viaturas usadas até ao fim do seu
“mandato” oficial na representação
diplomática portuguesa.
Mas o “diplomata” não se ficou, durante
a sua estada em Paris, pela
compra e venda de automóveis. Para
ganhar dinheiro, revelava uma imaginação
quase sem limites. A mulher,
notária em Portugal, pediu uma licença
sem vencimento e instalou-se
em Paris. Esperto, o adido pensou
então noutro lucrativo negócio: a esposa
passaria a dar conselhos jurídicos
(pagos, claro) aos emigrantes que
têm, frequentemente, bem intrincados
problemas administrativos e jurídicos
para resolver nas berças.
“Uma mina, com os carros, os
conselhos jurídicos e mais o salário
vou ficar mesmo rico bem depressa”,
terá pensado. Abusando do seu estatuto
de diplomata, imaginou uma jogada
reveladora do seu génio
interesseiro. Tentou, junto do director
da rádio Alfa, meter uma cunha para
que esta lhe produzisse e difundisse
na antena, gratuitamente, anúncios
para arranjar clientes para a mulher.
Perante a recusa do director, que lhe
respondeu dizendo que a publicidade
era paga na rádio e o mandou falar
com o serviço comercial, amofinouse
e nunca mais falou com ele…
Repito que a maioria dos diplomatas
portugueses não é, felizmente,
composta por gente bizarra como este
adido tão especial. Mas há alguns
que protagonizaram situações estranhíssimas,
bem grotescas, em Paris.
Esteve por exemplo em funções nesta
cidade um embaixador que adorava
longas cavaqueiras enquanto bebia
uns copos com os amigos. No fim das
recepções oficiais, e em muitas outras
ocasiões, convidava-os para, em
“petit comité”, degustarem bebidas
de primeira, nos salões da Embaixada,
em serões até altas horas da
madrugada.
O problema é que, quando recebia os
amigos, ele obrigava os empregados
de mesa, porteiros e criadas, a fazerem
horas extraordinárias, não pagas,
pela noite dentro. As bebidas eram
servidas aos convivas com todo o cerimonial
e com os empregados vestidos
a rigor! Um dia, os criados
chatearam-se a sério porque consideravam
estas noitadas um verdadeiro
abuso – dormiam pouco, deitavam-se
tarde e tinham de levantar-se cedo.
Passaram então a diluir medicamentos
para dormir nos copos para que
os convivas tivessem sono e as noitadas
acabassem mais cedo. Mas,
como não gostavam mesmo do diplomata,
que consideravam ser um ditador,
foram mais longe: faziam contra
ele, no maior dos segredos, magia
negra, com bonecos de pano e agulhas!
Quando descobriu a feitiçaria e a surpreendente
forma que assumiu a revolta
dos criados, o embaixador
explodiu numa das suas mais históricas
cóleras. E despediu todos os lacaios
envolvidos nas sessões de
bruxaria!
Estas duas historietas parecem anedotas
ridículas? Evidentemente. Mas
espelham o modo como algumas pessoas
das nossas elites se comportam.
A primeira aconteceu nos anos 2000,
a segunda nos anos 1980. Figas… feitiçarias na embaixada

Aucun commentaire: