A historia que hoje vos conto até parece ficção. No melhor
pano cai a nódoa, por isso saliento que
a maioria dos diplomatas
portugueses
não tem comportamentos
idênticos aos aqui descritos - conheço aliás
vários diplomatas “a sério”. Mas,
como são duas historietas a um tempo
ridículas e cómicas, cabem bem
nesta série de “histórias tristes”. E,
numa escola francesa de
jornalismo, aprende-se esta máxima com a
qual concordo: quando um avião tem
uma avaria em voo a notícia deve ser
sempre divulgada, quando chega ao
destino sem problemas não é
preciso, quando não se verificam
incidentes não é notícia.
. O adido da Embaixada de
Portugal ganhava, como os seus colegas,
à volta de dez mil euros por mês,
mais subsídio para a
casa. Mas, como queria ficar rico em
pouco tempo – a sua missão, pensava,
era curta, de apenas três anos –
meteu-se em inacreditáveis negócios
paralelos na capital francesa.
Comprava carros usados e expunha-os junto
ao passeio da porta principal da
Embaixada, na zona de
estacionamento privativa do corpo diplomático, na
rua de Noisiel, em Paris, com o anúncio “à venda” e um número de telemóvel, o dele, no pára-brisas. Quando deu conta dos expedientes, no mínimo invulgares, do adido, o embaixador aborreceu-se com o seu atrevimento: às vezes, o seu motorista nem encontrava lugar para parar o automóvel oficial nos escassos espaços reservados! Proibiu-o então de estacionar os carros para venda na área diplomática. Porque não havia, nem há,
estacionamento gratuito naquela zona de
Paris
Mas o “diplomata” não se ficou,
durante a sua estada em Paris,
pela compra e venda de automóveis.
Para ganhar dinheiro, revelava uma
imaginação quase sem limites. A
mulher, notária em Portugal, pediu uma
licença sem vencimento e
instalou-se em Paris. Esperto, o adido
pensou então noutro lucrativo negócio: a
esposa passaria a dar conselhos
jurídicos (pagos, claro) aos emigrantes
que têm, frequentemente, bem
intrincados problemas administrativos e
jurídicos para resolver nas
berças. “Uma mina, com os carros,
os conselhos jurídicos e mais o
salário vou ficar mesmo rico bem
depressa”, terá pensado. Abusando do seu
estatuto de diplomata, imaginou uma
jogada reveladora do seu
génio interesseiro. Tentou, junto do
director da rádio Alfa, meter uma cunha
para que esta lhe produzisse e
difundisse na antena, gratuitamente,
anúncios para arranjar clientes para a
mulher. Perante a recusa do director, que
lhe respondeu dizendo que a
publicidade era paga na rádio e o mandou
falar com o serviço comercial,
amofinou-se e nunca mais falou com
ele…
Repito que a maioria dos
diplomatas portugueses não é,
felizmente, composta por gente bizarra como
este adido tão especial. Mas há
alguns que protagonizaram situações
estranhíssimas, bem grotescas, em
Paris.
Esteve por exemplo em funções
nesta cidade um embaixador que
adorava longas cavaqueiras enquanto
bebia uns copos com os amigos. No fim
das recepções oficiais, e em muitas
outras ocasiões, convidava-os para,
em “petit comité”, degustarem
bebidas de primeira, nos salões da
Embaixada, em serões até altas horas
da madrugada. O problema é que, quando recebia
os amigos, ele obrigava os
empregados de mesa, porteiros e criadas, a
fazerem horas extraordinárias, não
pagas, pela noite dentro. As bebidas
eram servidas aos convivas com todo o
cerimonial e com os empregados
vestidos a rigor! Um dia, os
criados chatearam-se a sério porque
consideravam estas noitadas um
verdadeiro abuso – dormiam pouco,
deitavam-se tarde e tinham de levantar-se
cedo. Passaram então a diluir
medicamentos para dormir nos copos para
que os convivas tivessem sono e as
noitadas acabassem mais cedo.
Mas, como não gostavam mesmo do
diplomata, que consideravam ser um
ditador, foram mais longe: faziam
contra ele, no maior dos segredos,
magia negra, com bonecos de pano e
agulhas! Quando descobriu a feitiçaria e a
surpreendente forma que assumiu a
revolta dos criados, o
embaixador explodiu numa das suas mais
históricas cóleras. E despediu todos os
lacaios envolvidos nas sessões
de bruxaria!
Estas duas historietas parecem
anedotas ridículas? Evidentemente.
Mas espelham o modo como algumas
pessoas das nossas elites se
comportam.
A primeira aconteceu nos anos
2000, a segunda nos anos 1980.
Figas…
Daniel ribeiro
Jornalista
Aucun commentaire:
Enregistrer un commentaire