Os indignados em versão gay são os polícias do catolicismo e do
Papa. Estão sempre a vigiar o vocabulário e as opiniões dos membros da Igreja.
Acho muito bem, sim senhora, estão no seu direito, podem e devem expressar o seu
ódio terminal contra a fé católica. Mas eu só não percebo uma coisa: a
indignação do orgulho gay nunca cai sobre o Islão homofóbico (peço desculpa pelo
pleonasmo). E repare-se que não estou a falar dos muçulmanos a viver nas
Arábias, mas sim dos muçulmanos europeus. Olhe-se, por exemplo, para a opinião
de uma muçulmana sueca muito mediática, Suad Mohamed: "não me peçam para a
aceitar ou dizer que o meu deus permite a homossexualidade, porque ser
homossexual é proibido (...) ser homossexual é uma escolha, não se nasce assim
(...) é o mesmo que beber ou matar. Está a agir de forma errada; a fazer coisas
que Deus não gosta" (Pública, 7 de Novembro 2010). Quando um católico diz
semelhante coisa, caem três ou quatro Carmos e respectivas Trindades. Quando é
um muçulmano a opinar desta forma, os ouvidos da malta são tomados por uma
súbita otite progressista.
E a linha na areia há muito que ultrapassou o mero jogo de
palavras. Tal como salienta um distinto cidadão de Amesterdão,
as agressões de muçulmanos a gays holandeses estão a aumentar perante a inércia
da sociedade. Por que razão isto acontece? Quais as causas da indignação
selectiva? Vejo três. A primeira é o medo puro e duro, a cagufa, a miúfazinha.
Afinal de contas, criticar o islamismo pode provocar ataques directos; na
Europa, vários críticos já acordaram com propostas que não podiam recusar. A
segunda causa é o velho ódio jacobino contra a Igreja Católica, a Infame, a
Rameira de Deus. Mas a razão mais forte é, sem dúvida, a terceira: os complexos politicamente correctos, o racismo cor-de-rosa que apascenta as almas progressistas.
Tal como as feministas, os movimentos gays recusam criticar o
islamismo, mesmo aquele que existe dentro das nossas cidades. Desculpar o
outro, sobretudo o muçulmano, passou a ser o mantra obrigatório da
esquerda. Apesar do evidente racismo (o outro é tratado como uma criança,
como um ser menor e inimputável), este mantra é um sucesso há décadas.
Percebe-se porquê: dentro de um esquema policial e punitivo típico da esquerda,
a crítica a uma pontinha de cabelo islâmico determina, de imediato, a perda das
credenciais de esquerda, que, como todos sabem, abrem muitas portas. Devido ao reduzido número de rebeliões contra este cerco ,
o resultado final é uma enorme hipocrisia. Os assanhados movimentos gay pouco ou
nada dizem sobre a força mais embrutecida e homofóbica do nosso tempo, o Islão
europeu.
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