27.6.15

OXI - Sabiam que a Grécia não tem Lepra?


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A capacidade de os líderes europeus se superarem na hora de fazer e dizer asneiras parece ser inesgotável.
Um dia, quando for velhinho e os meus netos me perguntarem "avô, quando é que tiveste mais vergonha dos líderes europeus?", vou responder "quem são vocês"? Depois, quando eles olharem para mim assustados, vou rir e dizer "o avô está a brincar, não tem Alzheimer. Mas foram tantas vezes que gostava de esquecer-me pelo menos de uma parte." E vou contar-lhes aquela vez em que a União Europeia andou, com todo o seu espírito solidário, a passar a imagem de que os gregos tinham lepra. 



Lembra-se do "Portugal não é a Grécia"? Ou "a Irlanda não é a Grécia"? Ou, ainda, "Espanha não é a Grécia"? No fundo, ninguém é a Grécia, esse país de leprosos. A frase, em todas as variantes, vai para sempre ter destaque na galeria de horrores da União Europeia como uma das coisas mais abomináveis que se disseram na suposta Europa solidária. 

Infelizmente, pode sempre ser pior. É por isso que, na última semana, assistimos com vergonha alheia a um número recorde de cimeiras, Eurogrupos, propostas e contrapropostas para acordo entre Grécia e credores. Maratonas de negociações que já ninguém aguenta, minadas pela intransigência de Atenas e pela vontade da troika e alguns países marcarem a sua posição e castigarem os gregos - são chatos, os leprosos. 

Tsipras e Varoufakis têm culpas no cartório. Prometeram o impossível e tiveram uma postura negocial insuportável. Mas, na semana em que Atenas apresenta propostas consideradas "sérias e credíveis", os credores fazem tábua rasa ao documento e falham o acordo por causa de coisas como um ponto de IRC a mais ou a menos? Vá lá, já lhes afundaram a economia numa depressão, é mesmo necessário gozar com a cara deles?

Perdi a conta às vezes que ouvi, nos últimos meses, que os gregos deviam dar sinais de boa-fé nas negociações para os credores voltarem a confiar neles. Certo, porque deve ser fácil Varoufakis entrar no Eurogrupo, olhar para Christine Lagarde e lembrar-se que, em 2013, o FMI publicou uma análise ao primeiro resgate à Grécia, onde referia que dobrou as regras para entrar em algo que não acreditava, só porque a zona euro não quis reestruturar uma dívida que não era sustentável. Ou, melhor, olhar para Wolfgang Schäuble e pensar: "olha o gajo que em 2012 nos quis vender as ilhas" - dariam certamente uma fantástica versão europeia da Florida para reformados alemães.


Schäuble é um ‘bully'. É aquele velho mau como as cobras, que anda no lar da terceira idade a distribuir bengalada em toda a gente e só não é expulso porque a sua família mete lá mais dinheiro do que as famílias dos outros velhotes juntas. É por isso que Merkel lhe tirou o tapete em 2012 e, acredito, lho vai voltar a tirar agora, forçando um acordo que ele não quer. Ao contrário de Schäuble, a chanceler tem presentes os riscos geopolíticos relativos à Rússia e sabe que na Grécia, a seguir ao Syriza, há o risco de vir o Aurora Dourada. 


Em Portugal, claro, o Governo não pensa assim. Paulo Portas, desde que se safou da troika, colocou os olhos nas legislativas e não se podia estar mais a marimbar para o que acontece à Grécia, desde que o Syriza não saia como vencedor político. Quando, em Fevereiro, o ouvi repetir que Portugal não era a Grécia, acrescentando que "isto não é não ser amigo da Grécia, é ser amigo de Portugal", quase me emocionei. Depois lembrei-me do episódio irrevogável e acabei à gargalhada. 

Pior tem sido Passos Coelho, que parece fazer questão que os gregos sejam castigados. Esta semana, foi fazer o papel de polícia mau para a cimeira europeia, conta a imprensa internacional. Só prova que não é um aprendiz de Merkel, como tantas vezes se diz. No máximo, é aprendiz de Schäuble. Não é um ‘bully', é o puto gordo que passa a vida a ser gozado pelos ‘bullies' na escola, mas que é o primeiro a gozar com o puto asmático, na esperança que se esqueçam dele. Mas oh gordo: no dia em que o asmático mudar de escola porque já não aguenta os abusos, os ‘bullies' vão voltar-se para quem?

Luis Reis Filipe - Portugal

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