Calma. A última palavra do título desta crónica é inspirada no genial Caetano Veloso. Disse ele recentemente, a propósito do seu último trabalho, “Abraçaço”, que a bossa nova e alguns músicos e compositores brasileiros são foda.
No Brasil, o significado da palavra, que em Portugal é uma obscenidade, é bem diferente. Segundo indica em segundo lugar o dicionário Houaiss, “foda” é “aquilo que se suporta como dificuldade; dureza”. Popularmente a palavra é também usada para classificar o que é muito bom, surpreendente, que se destaca do demais.
Tome-se pois a palavra no sentido que os brasileiros lhe dão e não como a vulgar ordinarice com que é usada em Portugal. Gente que é foda são, nestes tempos de entroikanço, aqueles que nos surpreenderam. Que nos fizeram cair o queixo de espanto. Por cá, houve dois cidadãos que se destacaram.
O primeiro é Pedro Passos Coelho, um homem que há um ano e meio é um autêntico oceano de surpresas. Andavam no domingo os portugueses à procura de umas prendas baratinhas para o Natal, quando o nosso primeiro resolve criticar os que têm pensões mais altas cujos valores não correspondem ao que descontaram.
Passos respondia aos que criticam a taxa extraordinária de solidariedade, ou seja, um corte nas reformas a todos os pensionistas que ganham mais de 1350 euros. Claro que o pessoal ficou mais uma vez possesso, especialmente aqueles que têm uma pensão de pouco mais de 1300 euros; que descontaram uma vida tudo o que lhes pediram; que deram como boa a palavra de que receberiam o que pagaram na reforma.
Mas Passos não falava para estes, que nem aparecem na televisão no bota-abaixo, como os membros do PSD gostam de dizer. Não, o primeiro falava lá para cima, para os deputados que, quando abandonam o Parlamento, trazem um saco cheios de regalias, para os que passam uns anos no Banco de Portugal e outras instituições públicas e têm direito a reformas milionárias.
O que o nosso primeiro quis dizer e mais uma vez não o entenderam é que, na sua refundação do Estado, vai acabar com todos estes privilégios. Esta gente vai deixar de ter privilégios. Como o próprio Passos disse, vão deixar de receber mais do que descontaram. É a tal “missão histórica” que diz ter em mãos.
Só pode ser esta a sua intenção, porque se não for está a gozar com os portugueses e, para atingir meia-dúzia, a insinuar que milhares andaram a roubar o Estado ao longo dos anos. Passos Coelho não é homem para isso.
Quem também está muito à frente e também não é entendido frequentemente é o presidente do Sporting. Godinho Lopes anda a levar “porrada” por todo o lado por ter feito uma capa do jornal do clube com uma foto que é uma espécie de última ceia.
De facto, assim à primeira vista, aquilo parece um disparate sem paralelo em Alvalade. O presidente do Sporting a meio da mesa, rodeado por 19 atletas do clube das mais variadas modalidades e equipados a rigor. No Sporting é tudo em grande: se na última ceia de Cristo eram 13 à mesa, na do Sporting são 20. Olhando com mais atenção, vê-se então que a maior parte dos copos estão vazios, que existem apenas quatro pratos vazios para os 20 convivas e uma dúzia de peças de fruta espalhadas pela mesa.
Claro que os maldizentes vieram logo afirmar que aquela mesa mostra a miséria em que os “leões” vivem actualmente e que a imagem da última ceia é reveladora do que se vai seguir: o beijo de Judas (em Alvalade existem às centenas) e a crucificação de Godinho.
Perceberam mal. A cabeça de Godinho vai muito à frente. O Sporting é, quase todos os anos, alvo de chacota por chegar ao Natal fora da luta do título de campeão nacional e a presente temporada está a ser a pior de sempre do clube. Vai daí Godinho inventou algo que impeça a troça generalizada. É que nem o maior anti-sportinguista conseguia arranjar uma piada tão má como aquela última ceia leonina e, assim, Godinho passa um Natal descansado, porque aquilo até faz pena.
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