PARABÉNS TIMOR!
Por Antonio Loulé*
No
fundo, no fundo, os portugueses da Europa sempre souberam muito pouco sobre
Timor. O afastamento geográfico e a própria índole pacífica da história
timorense, até ao quarto decênio do século vinte, contribuíram muito para isso.
A
única ocasião em que houvera, até então, algum dissídio sobre Timor, foi
durante o domínio da dinastia dos Habsburgos, o chamado período filipino da
História de Portugal, que durou de 1580 a 1640. Em guerra com a Holanda por
causa da Flandres, Castela viu os neerlandeses apoderarem-se de largas fatias
do seu novo império: Pernambuco, as feitorias de Angola, e Timor, entre outras.
Daí a existência de um Timor Oeste, holandês, e de um Timor Leste, português,
desde 1912, quando um tratado acabou com a longa disputa e dividiu a ilha entre
Portugal e a Holanda.
Durante
a II Guerra Mundial, e depois do ataque japonês a Pearl Harbour, ingleses e
australianos invadiram a ilha, situada estrategicamente em posição que poderia
ameaçar a Austrália, caso a extraordinária expansão do império do Sol Nascente
não fosse detida como mais tarde foi, após a epopéia de Guadalcanal. O que não
livrou Timor de outra ocupação, a japonesa, que durou até ao fim da Guerra e
teve os seus heróis da Resistência, como D. Aleixo e D. Jeremias.
Por
fim, no nosso tempo, teve Timor que sofrer a inglória ocupação Indonésia, só há
pouco vencida e terminada com a independência do velho Timor Português, hoje
membro da comunidade lingüística de origem lusa.
Países
de recente alfabetização – recente do ponto de vista histórico, claro
está – fundam as
suas origens na tradição oral que sempre se mistura com mitos e lendas, seja
isto no pequeno Mediterrâneo dos gregos e romanos ou no imenso Pacífico dos
timorenses. Estes, diga-se de passagem, começaram a ser alfabetizados pelos
missionários dominicanos depois de 1511. Até lá, o seu passado histórico era a
lenda que, por pouquíssimo conhecida, tentarei resumir aqui.
Segundo
o antigo mito, a origem de Timor seria o “velho crocodilo”, animal que surge
com muita freqüência em lendas orientais, a começar pelo Egito onde era animal
sagrado.
Naquele
tempo vivia em Macassar, para os lados das Celebes, um velho e rugoso crocodilo
que, com as forças depauperadas pela vetusta idade, já quase não conseguia
caçar os seus alimentos. Um jovem pescador, todavia, teve dó dele e começou a
alimentá-lo.
Com
as forças refeitas, o Avô Crocodilo resolveu abandonar as paragens onde vivera
e procurar terras mais para Oriente, para onde rumou transportando o rapaz no
lombo. A viagem foi longa, até chegarem às ilhas de Sonda. Ali chegados, viram
no negrume da noite aparecer uma esfera de fogo que logo espalhou uma
luminosidade intensa e não era outra coisa senão o nascer do sol. Deslumbrado,
o Avô Crocodilo começou então a transformar-se em terra e rochas, em floresta e
praia que, no conjunto, formaram uma ilha em forma de crocodilo, a que os
vizinhos malaios passaram a chamar Timor que, na sua língua, significa Oriente.
Não
se sabe aonde, o rapaz que cavalgara o crocodilo conseguiu encantar uma malaia
que o velho sáurio não se importou de transportar também – e foi desse casal,
desse rapaz cheio de bondade e dessa moça cheia de amor e coragem que nasceram
os timorenses de hoje. Corajosos e bons.
* É
Membro da Academia Luso-Brasileira de Letras
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