3.11.11

Reportagem em Cuba: à espera que Fidel morra

Cubanos começam a aventurar-se pelos negócios privados e só o turismo lhes dá melhores condições de vida. Não querem nem pensar na entrada dos EUA no país, mas admitem que a mudança só chegará quando os Castro deixarem o poder
 Por: Catarina Pereira / , Cuba | 14- 5- 2011 Reportagem em Cuba: traje tradicional das mulheres cubanas [foto de Catarina Pereira]


A revolução foi há 52 anos. O sonho cubano de um país socialista vai esmorecendo de dia para dia e a evidente pobreza do povo obriga a novos caminhos. Che Guevara e Camilo Cienfuegos, dois dos heróis da Sierra Maestra, já não estão cá para ver no que se tornou a sua luta. Sobraram Fidel e Raul, os irmãos Castro que se esforçam por manter unida uma ilha que grita por mudança.

«Se não sorrirmos, ficamos loucos». Alejandro (nome fictício), um mecânico de 45 anos, ganha 200 pesos cubanos por mês ao trabalhar para o Estado. É o equivalente a cerca de 7 euros. Confessa que não tem nenhuma formação para arranjar carros. «Vai-se inventando». Não passa fome porque o governo lhe dá o racionamento necessário para sobreviver. Carne, açúcar, ovos e feijão chegam todos os meses a toda a gente. Mas a oferta já foi melhor e o governo já avisou que vai continuar a cortar.

O mecânico quer saber tudo sobre Portugal. «Vocês estão pior do que Espanha?» E admira-se pelo nosso «sim», integrado numa pequena explicação do que é o FMI e da ajuda que está a ser dada ao nosso país. Lamenta não ter acesso a essas notícias. «Não temos toda a informação de fora». Dos últimos tempos, recorda apenas ouvir falar dos sismos no Japão e no Haiti.

Apesar das dificuldades, Alejandro tem orgulho em ser cubano. Elogia sobretudo o seu sistema de saúde, garante que qualquer um tem acesso a qualquer tratamento a custo zero e até fica um pouco triste por nós quando lhe dizemos que em Portugal há cada vez mais hospitais privados. No entanto, sabe que o país está a mudar. «Agora deviam deixar entrar aqui a União Europeia e a China». É a sua esperança. Acredita que o dinheiro europeu e asiático lhe traria uma vida melhor. O eterno inimigo é que não. «Se os EUA entrarem aqui, deixamos de ser pessoas».

Cuba está a abrir. O recente Congresso do Partido Comunista Cubano foi um exemplo disso mesmo. Ouvir um Castro a falar de abertura à iniciativa privada e ao investimento estrangeiro seria impensável há uns anos atrás. Os sinais chegam ao povo não só através do «Granma» (jornal oficial do partido), mas sobretudo pela prática: cerca de 500 mil funcionários públicos estão a ser despedidos. É urgente aprender a viver às suas próprias custas.

Guillermo, aos 30 anos, já o faz. Paga 900 pesos cubanos (cerca de 32 euros) por mês ao Estado para ter um carro para guiar turistas aventureiros. Tem um nível de vida muito acima da média, porque os estrangeiros lhe pagam bem. Mostra-nos o seu telemóvel repleto de fotografias e ostenta um relógio e uma pulseira de ouro. «Eu tenho dinheiro, mas não posso viajar. Queria conhecer a Argentina...» Os cubanos não podem sair do seu país, ainda é proibido por lei, embora vá deixar de ser brevemente. A única forma deste motorista conhecer o mundo é através da Internet. «Tenho acesso a todos os sites. Mas mesmo que eu veja o mundo, não posso conhecê-lo».


http://www.tvi24.iol.pt/internacional/cuba-castro-fidel-raul

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