Helena Garrido - Helenagarrido@negocios.pt
A União Europeia e o euro estão a morrer às mãos da Alemanha. Pela Alemanha nasceram, por causa da Alemanha arriscam a morte.
Hoje todos aceitam as directivas de Angela Merkel que Nicolas Sarkozy finge serem também da França. Estamos submergidos pelas dívidas e subjugados pelo terror do fim do euro. Mas a humilhação dos povos, pelos menos de alguns, paga-se.
As bolsas festejaram, as taxas de juro caíram e os líderes do outro lado do Atlântico respiraram de alívio. Mas tudo pode ser efémero. Pela actuação dos investidores e pelo que a história ensina dos povos europeus.
Os que ditam as regras do mercado, claro, reagem mais rapidamente que os povos. Ontem, ao fim do dia, a agência de "rating" Standard & Poor's revelava ao "Financial Times" a possibilidade de baixar o "rating" da Alemanha, França, Holanda, Áustria, Finlândia e Luxemburgo que hoje contam com a nota máxima (três A). Basta a França perder o valor de país sem risco para o mesmo acontecer ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) que está a angariar recursos para países como Portugal. No outro lado do Atlântico, onde se compreende muito bem como funciona a economia financeira, valem zero as conversas sobre revisões de tratados e regras de disciplina financeira que levam meses e são ditados por dois países em 17 ou 27.
Deste lado do Atlântico, quem conhece a Europa, sabe que a dupla Merkzozy traçou um caminho incerto para ganhar a batalha do colapso imediato do euro mas aprofundou ainda mais as feridas, abertas desde que esta crise começou em 2010, na soberania e na democracia dos países europeus e da União Europeia.
A Europa de Jean Monnet foi construída com os valores do respeito pelo outro, num tempo em que a Alemanha não era a grande Alemanha, mas a Alemanha saída da guerra - como este fim-de-semana lembrou Helmut Schimdt. Os tratados foram sempre revistos num ritual que respeita os valores da democracia e a diferença entre os povos. Nunca nasceram de reuniões entre a França e a Alemanha. Sim, a história conta que o euro nasce de um compromisso entre Paris de Miterrand e, na altura, Bona de Kohl. Eu, disse a Alemanha, concordo em partilhar a minha soberania monetária, e eu, disse a França, concordo com a unificação alemã. Mas nem por isso se deixou de construir um Tratado, o de Maastricht, com todos os rituais que os valores da democracia e liberdade exigem.
A Alemanha prefere sacrificar os valores da democracia e da igualdade entre os povos no altar da sacrossanta proibição do financiamento monetário da dívida que vai alimentando ganhos financeiros. Sem se dar conta, a Alemanha está a ser cúmplice dos ganhos de milhões que muitos bancos, investidores, estão a obter, cobrando 6 a 7% aos Estados soberanos do euro para, com esses títulos, a renderem essas taxas, irem buscar dinheiro a 1% ao BCE. Porque o banco de Frankfurt pode deixar os bancos ganharem dinheiro à custa dos soberanos, mas não pode ajudar directamente os povos. Porque, na narrativa que nos vai sendo feita, os povos têm de ser castigados por terem gasto de mais. Sem que ninguém queira saber porque gastaram e como gastaram e muito menos quem foi que quebrou, sem consequências, a regra do Pacto de Estabilidade.
Temos de nos preparar. Os povos sofrem, mas não esquecem. De Atenas a Dublin, passando por Lisboa, de Roma a Madrid, as feridas vão ficando. Podemos estar seriamente perante a vitória numa batalha que nos lança para a pior das guerras, a da desintegração europeia.
Hoje todos aceitam as directivas de Angela Merkel que Nicolas Sarkozy finge serem também da França. Estamos submergidos pelas dívidas e subjugados pelo terror do fim do euro. Mas a humilhação dos povos, pelos menos de alguns, paga-se.
As bolsas festejaram, as taxas de juro caíram e os líderes do outro lado do Atlântico respiraram de alívio. Mas tudo pode ser efémero. Pela actuação dos investidores e pelo que a história ensina dos povos europeus.
Os que ditam as regras do mercado, claro, reagem mais rapidamente que os povos. Ontem, ao fim do dia, a agência de "rating" Standard & Poor's revelava ao "Financial Times" a possibilidade de baixar o "rating" da Alemanha, França, Holanda, Áustria, Finlândia e Luxemburgo que hoje contam com a nota máxima (três A). Basta a França perder o valor de país sem risco para o mesmo acontecer ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) que está a angariar recursos para países como Portugal. No outro lado do Atlântico, onde se compreende muito bem como funciona a economia financeira, valem zero as conversas sobre revisões de tratados e regras de disciplina financeira que levam meses e são ditados por dois países em 17 ou 27.
Deste lado do Atlântico, quem conhece a Europa, sabe que a dupla Merkzozy traçou um caminho incerto para ganhar a batalha do colapso imediato do euro mas aprofundou ainda mais as feridas, abertas desde que esta crise começou em 2010, na soberania e na democracia dos países europeus e da União Europeia.
A Europa de Jean Monnet foi construída com os valores do respeito pelo outro, num tempo em que a Alemanha não era a grande Alemanha, mas a Alemanha saída da guerra - como este fim-de-semana lembrou Helmut Schimdt. Os tratados foram sempre revistos num ritual que respeita os valores da democracia e a diferença entre os povos. Nunca nasceram de reuniões entre a França e a Alemanha. Sim, a história conta que o euro nasce de um compromisso entre Paris de Miterrand e, na altura, Bona de Kohl. Eu, disse a Alemanha, concordo em partilhar a minha soberania monetária, e eu, disse a França, concordo com a unificação alemã. Mas nem por isso se deixou de construir um Tratado, o de Maastricht, com todos os rituais que os valores da democracia e liberdade exigem.
A Alemanha prefere sacrificar os valores da democracia e da igualdade entre os povos no altar da sacrossanta proibição do financiamento monetário da dívida que vai alimentando ganhos financeiros. Sem se dar conta, a Alemanha está a ser cúmplice dos ganhos de milhões que muitos bancos, investidores, estão a obter, cobrando 6 a 7% aos Estados soberanos do euro para, com esses títulos, a renderem essas taxas, irem buscar dinheiro a 1% ao BCE. Porque o banco de Frankfurt pode deixar os bancos ganharem dinheiro à custa dos soberanos, mas não pode ajudar directamente os povos. Porque, na narrativa que nos vai sendo feita, os povos têm de ser castigados por terem gasto de mais. Sem que ninguém queira saber porque gastaram e como gastaram e muito menos quem foi que quebrou, sem consequências, a regra do Pacto de Estabilidade.
Temos de nos preparar. Os povos sofrem, mas não esquecem. De Atenas a Dublin, passando por Lisboa, de Roma a Madrid, as feridas vão ficando. Podemos estar seriamente perante a vitória numa batalha que nos lança para a pior das guerras, a da desintegração europeia.
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