2012-07-12

Foto - O edificio Gherkin de Londres vestido com capa de pinguim

Cuidado com o pinguim


Cuidado com o pinguim :O famoso edifício Gherkin em Londres é vestido com uma capa de pinguim para promover o Zoológico de Londres
(EPA/STEVE VIDLER)

2012-07-10

O escândalo Relvas: Lusófona não justifica equivalências «cadeira a cadeira»


Secretas: Relvas ouvido no Parlamento (Lusa/Manuel de Almeida)

O processo curricular de Miguel Relvas, consultado pela TVI, não contém justificações específicas para cada uma das 32 cadeiras atribuídas por equivalência, num parecer assinado por dois professores da Universidade Lusófona.

Recorde-se que, este domingo, Marcelo Rebelo de Sousa tinha explicado que o processo não podia conter apenas uma justificação generalizada. «Para 32 cadeiras, tem de estar, uma a uma, justificado por que é que se dá essa equivalência. Deve haver um parecer escrito a dizer, cadeira a cadeira, que este aspeto da carreira justifica que se dê esta cadeira...», afirmou.

No registo assinado pela responsável dos serviços académicos da Universidade Lusófona, Rosa Ribeiro, vê-se apenas que o ministro obteve 11 valores em 21 cadeiras por «equivalência atribuída de acordo com o decreto-lei nº74/2006». Segundo o processo de Bolonha, as universidades e os politécnicos podem reconhecer, «através da atribuição de créditos, a experiência profissional» de ex-alunos do ensino superior que desejem regressar aos estudos.

Nas 11 cadeiras às quais foi dada uma «equivalência atribuída pelo departamento» de Ciência Política e Relações Internacionais, Relvas obteve uma classificação de 10 valores.

Normalmente, este curso é distribuído por seis semestres, equivalentes a 180 ECTS (créditos). Mas o parecer assinado pelos professores José Fialho Feliciano e António Fernando dos Santos Neves decretou que a «elevada experiência profissional» de Miguel Relvas era suficiente para a atribuição de 160 créditos.

Os cargos desempenhados por Relvas são enumerados pelo próprio na carta que consta do processo e na qual pede aos responsáveis da Lusófona para «apreciarem o currículo profissional que se segue» para «eventual reconhecimento de equivalências ou de créditos». O governante divide a sua experiência em exercício de cargos públicos, exercício de cargos políticos, exercício de funções provadas, empresariais e de intervenção social e cultural, e frequência universitária.

Os 20 créditos que o ministro realizou por exame dizem respeito a quatro disciplinas: Introdução ao Pensamento Contemporâneo (18 valores), Teoria do Estado, da Democracia e da Revolução (14 valores), Geoestratégia; Geopolítica e Relações Internacionais II (15 valores) e Quadros Institucionais da Vida Económico-Político-Administrativa (12 valores). Do processo não constam os nomes dos professores, nem a composição do Conselho Científico, que decide as equivalências.

«O currículo submetido tem mais-valias claras e aspetos salientes muito positivos, que levam a que sejam considerados relevantes para efeito de creditação de competências profissionais uma parte significativa dos elementos aí constantes», afirma o parecer de apreciação de informação curricular.

Os professores da Lusófona destacam três «aspetos relevantes»: a longevidade das funções desempenhadas, a natureza das funções (liderança ou grande responsabilidade institucional) e a variedade das funções exercidas.

O processo para o qual os jornalistas tiveram apenas 30 minutos para consultar estava dividido em seis pastas: legislação, candidatura, matrícula/inscrição, registos académicos, certificado académico e processo financeiro.

Nesta última pasta, constavam três recibos de pagamento no total de 1777,52 euros, sendo que só o diploma custou 350 euros. Pelo pedido de equivalências, Miguel Relvas pagou 89 euros.

Segundo o processo, o ministro matriculou-se a 9 de novembro de 2006 e concluiu o curso em menos de um ano, a 24 de outubro de 2007, com uma classificação final de 11 valores.

A TVI consultou o processo perante a presença das duas responsáveis dos serviços académicos da Universidade, que controlavam as ações dos jornalistas. A justificação dada esta manhã para o
atraso no acesso ao processo mostrou ser falsa, uma vez que o provedor do aluno não esteve presente.
TVI24

2012-07-07

2012-07-02

Objeto luminoso cai no mar e intriga a Austrália



Um rasto luminoso foi visto no céu da Austrália, intrigando banhistas e moradores da cidade de Perth. Depois, o objeto, que poderia ser um meteorito, mergulhou no mar. A trilha demorou 20 minutos para se dissipar.

O caso provocou perplexidade, já que a trilha de meteoritos não costuma ser vista por tanto tempo no céu. Além disso, ver um objeto luminoso caindo no mar não é tão comum.

O Departamento de Meteorologia disse que o seus radares não teriam como registrar a passagem de um meteorito pela região, noticiou o site "Perth Now".

2012-07-01

Cesc será el nueve de España en la gran final ante Italia


Cesc será el nueve de España en la gran final ante Italia

Ya hay onces para la gran final del Estadio Olímpico de Kiev. Del Bosque ha resuelto la duda del nueve dándole una nueva oportunidad a Cesc Fábregas. Este es el once en España: Casillas; Arbeloa, Piqué, Ramos, Jordi Alba; Xabi Alonso, Busquets; Xavi, Iniesta, Silva y Cesc Fábregas.


Prandelli finalmente se decide por Abate como lateral derecho y juega con Buffon; Abate, Barzagli, Bonucci, Chiellini; Pirlo, Marchisio, De Rossi, Montolivo; Cassano y Balotelli.
AS

Rio é Patrimônio Mundial como paisagem cultural urbana


Praia de Copacabana vista do Morro do Leme Foto: Fabio Rossi / O Globo

RIO - O Rio de Janeiro se tornou, neste domingo, Patrimônio Mundial, como paisagem cultural urbana. A cidade foi a primeira do mundo a se candidatar nesta categoria. A candidatura, apresentada em português pela ministra da Cultura, Ana de Hollanda, foi aprovada durante a 36ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial, que está sendo realizada em São Petersburgo, na Rússia.
A ministra e o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Luiz Fernando de Almeida, que acompanharam os trabalhos, comemoraram a decisão que resultou na inclusão de mais um bem brasileiro na Lista de Patrimônio Mundial. Em seu discurso após a conquista, Ana de Hollanda disse que ela permitirá ao Brasil construir um novo mapa da herança cultural:
— Diante dessa novidade, e dos desafios que ela representa, gostaríamos de compartilhar nossa alegria com a comunidade internacional. Para nós, no Brasil, esta convenção representa muito para o futuro, mas em termos de paisagens é impossível avançar no estabelecimento de políticas culturais sem entender as relações entre seres humanos e seu ambiente. Essa conquista nos permitirá construir um novo mapa da herança cultural, rompendo com uma visão historicista e substituindo-a por um entendimento mais amplo do mundo.
Ana de Hollanda disse que, agora, o país terá um compromisso internacional com a Unesco.
— Nas apresentações que fizemos, foi lembrado, por exemplo, que a Floresta da Tijuca era antes um cafezal, mas que foi reflorestada. Ou seja, essa preocupação com a natureza é algo a que os próprios moradores da cidade dão grande importância. Só que agora, passamos a ter um compromisso internacional com a Unesco — afirmou a ministra, em entrevista à GloboNews.
Para o presidente do Iphan, preencheu-se uma lacuna na lista do patrimônio mundial:
— Essa conquista representa um reconhecimento muito importante. Se a gente observar que a lista do patrimônio mundial representa o país, então faltava o Rio de Janeiro dentro dessa lista. O Rio representa a imagem mais difundida do patrimônio brasileiro no mundo. Ou seja, foi preenchida uma lacuna da representação do Brasil para fora do país — disse Luiz Fernando de Almeida. — Mas isso coloca um grande desafio para todos nós, que é o de conseguir construir uma política pública que harmonize com as políticas que são de natureza setorial: política de habitação, de meio ambiente etc. Passaremos a pensar numa política transversal que consiga realmente responder aos desafios de fazer a gestão de um território.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/rio-patrimonio-mundial-como-paisagem-cultural-urbana-5363704#ixzz1zO8QcdEf

Foto - Santa Apolonia em 1898


Estacão de Santa Apolonia - 1898

Festival de cinema chama atenção para a energia nuclear



Hiroshima após a bomba: documentário no festival relata a vida de sobreviventes do bombardeio que vieram morar no Brasil
Foto: Divulgação

RIO - Desta sexta-feira a 14 de julho, a Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio (MAM) recebe o Uranium Film Festival, dedicado a produções que têm a energia nuclear como tema. Ao todo, serão exibidos 54 filmes de curta, média e longa metragem que abordam diversos aspectos da questão e concorrerão ao “Oscar amarelo” nas categorias de melhor curta, melhor longa e melhor animação. O festival, que teve sua primeira edição no ano passado, é uma iniciativa da ONG Arquivo Amarelo e tem como objetivo levar ao público em geral informações sobre a energia nuclear, seu uso e consequências por meio de produções que dificilmente chegam ao circuito comercial, conta a diretora-executiva da mostra e integrante da ONG Márcia Gomes de Oliveira.
- Toda a temática em torno da energia nuclear é geralmente invisível para a população - diz Márcia. - A radioatividade, por exemplo, é invisível, e esperamos que os filmes do festival deem uma visibilidade a este mundo invisível.
Entre os destaques da programação está a estreia mundial do filme “8:15 de 1945”, prevista para as 16h de amanhã. A produção argentino-brasileira de 2012 conta a vida dos sobreviventes do bombardeio nuclear de Hiroshima, no fim da Segunda Guerra Mundial, que vieram morar no Brasil. A exibição contará com a presença do diretor Roberto Fernandez e dos imigrantes japoneses Takashi Morita, 88 anos, e Kunihiko Bonkohara, 72 anos, ambos sobreviventes da bomba lançada pelos americanos às 8h15 do dia 6 de agosto de 1945 e, respectivamente, fundador e vice-presidente da Associação Hibakusha Brasil pela Paz, sediada em São Paulo.
- Eles são a história viva do drama do mau uso da energia nuclear e estão dispostos a falar sobre o assunto - afirma Márcia.
Ainda amanhã, às 18h30, está programada a estreia na América Latina do também documentário “Confissões atômicas”, da australiana Katherine Aigner. Com base em relatos de testemunhas, Katherine, que participará de um debate depois da exibição do filme, reconta a história da explosão de 12 bombas atômicas sobre o território da Austrália pelo Reino Unido nos anos 50 e 60. Nestes testes, militares e aborígenes australianos foram expostos a diferentes doses de radiação sem seu conhecimento como parte de estudos sobre os efeitos das emissões em organismos e equipamentos.
O festival também está estimulando a produção de filmes que tenham a energia nuclear como tema. Um dos exemplos é o curta “Era uma vez na cidade atômica”, de Riccardo Migliore. Rodado em Pocinhos, na Paraíba, o filme investiga a possível relação entre a elevada incidência de câncer na cidade com misteriosas pesquisas conduzidas por cientistas americanos naquela região do semiárido nordestino há cerca de meio século. Finalizada no ano passado, a produção ítalo-brasileira será exibida pela primeira vez também amanhã, antes do filme da australiana Katherine.
- A questão nuclear está em toda parte, seja no ambiente hospitalar, na energia que consumimos no dia a dia e no nosso próprio lixo - lembra Márcia. - Por isso, é grande a importância de trazer para o público filmes com tanto valor informativo sobre um tema tão mundial. Tínhamos conhecimento de vários filmes já feitos sobre o assunto, mas quase nenhum tinha sido traduzido para o português ou exibido no Brasil. Tornar essas obras acessíveis é da natureza de um festival como este.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/ciencia/festival-de-cinema-chama-atencao-para-energia-nuclear-5347303#ixzz1zJm8iDvu

2012-06-30

Dossier - Saida do €uro inevitavel: A diabolica questão: como sair de forma ordeira?


Numa interessantissima (longa) entrevista ao "Publico" Costas Lapavitsas diz verdades que todos podemos compreender sem ser-mos peritos em Economia.
JMIRA

O Governo grego cairá em breve e a Grécia sai da moeda única até ao final do ano. Portugal que não se iluda: é o próximo da linha. Para o economista grego Costas Lapavitsas, só um plano Marshall pode salvar o euro.

Foi uma das vozes que se opôs, logo em 2010, ao acordo de resgate à Grécia e tem alimentado o debate europeu sobre a saída do país do euro e o colapso da moeda única. Costas Lapavitsas, professor de economia da SOAS (Escola de Estudos Africanos e Orientais da Universidade de Londres), acaba de publicar o livro Crisis in the eurozone (Crise na zona euro), em parceria com outros colegas do Research on Money and Finance (RMF) - um grupo de economistas, do qual faz parte o português Nuno Teles. Em entrevista por telefone ao PÚBLICO, o autor que tem influenciado as ideias do partido de esquerda radical, o Syriza, explica por que é que considera inevitável a desintegração da zona euro.

A Grécia formou um novo Governo. O pior já passou?

Não, de todo. Evitou-se o pior resultado, que seria uma saída caótica e violenta da Grécia da zona euro, no curto prazo. Mas este Governo, com o programa que tem de seguir, com as pessoas que o vão formar, não vai resolver a crise grega. Este Governo tem um período de vida curto.

Porquê?

Em primeiro lugar, porque o programa económico que vai seguir é basicamente o mesmo dos últimos dois anos e meio. É um programa com condições: austeridade, liberalização e privatização. Não correu bem até aqui e não vejo como pode resultar agora. Não vão conseguir nenhuma concessão significativa da União Europeia, no máximo um alargamento do prazo para as metas orçamentais. Se a Grécia continuar a aplicar este tipo de políticas, o caminho que se segue é de contracção e estagnação. Além disso, os políticos que formam este Governo são da velha escola. São os mesmos que colocaram o país nesta situação. Não estão habituados a trabalhar uns com os outros, a formar governos de coligação e a cooperar. Espero luta e fracções neste Governo.

O que vai acontecer então?

O Governo vai cair nos próximos meses e o partido de esquerda radical, o Syriza, será chamado a formar Governo e resgatar o país.

Mas o Syriza também diz querer manter o país no euro…

É verdade. Oficialmente, são muito defensores da ideia de manter a Grécia dentro da zona euro. Mas o Syriza também reconhece que há um limite até onde os gregos irão para manter o país dentro do euro. Se o que a zona euro lhes pedir para fazer for muito severo, vão recusar-se. Em última instância, isso irá significar a saída da Grécia do euro.

Isso acontecerá este ano?

Seria um milagre se a Grécia permanecer no euro no final do ano. Se a Grécia ficar e continuar a aplicar estas políticas, o futuro será muito mau para os gregos. A pobreza vai aumentar, o desemprego vai aumentar, não haverá futuro para os jovens. A economia vai estagnar durante anos. Será uma morte lenta. A Grécia tornar-se-á um país pobre, muito desigual, um país de velhos, pois os mais jovens sairão do país.

Se a Grécia sair, segue-se Portugal?

Sim. Não acho que Portugal tenha futuro dentro do euro. Sei que os portugueses acreditam que possa ser diferente com eles, mas estão a iludir-se. Portugal teve 10 a 15 anos de estagnação. A economia é fraca, não pode sobreviver facilmente dentro do euro. Portugal não pode sobreviver na união monetária com algum tipo de dinamismo. O que vale para a Grécia vale para Portugal. E o mesmo para Espanha. A Espanha não conseguirá recuperar facilmente nesta união monetária.

Mas, como diz no seu novo livro, a zona euro pode mudar…

Mas não pode mudar rapidamente. Seriam precisas mudanças estruturais dramáticas e profundas. As eurobonds, a intervenção do BCE, todas estas coisas que foram discutidas várias vezes são superficiais. Não podem resolver a crise e não podem ser introduzidas sem mudanças estruturais prévias. A Alemanha e a senhora Merkel estão certos em serem cépticos quanto a isso. O que a Europa precisa é de um plano Marshall.

Mas isso é precisamente o que a Alemanha não quer…

Exacto. Mas é o que a Grécia, Portugal e a Espanha precisam, para aumentar a produtividade do trabalho e tornarem-se mais competitivos. A Comissão Europeia e o FMI já entenderam que esse é o problema. Mas a maneira como o estão a tentar resolver é destruindo os custos laborais e os salários. Esta é a maneira mais brutal e menos efectiva de o fazer. Não vai funcionar, não só porque é violenta na destruição dos rendimentos das pessoas, mas também porque os salários da Alemanha permanecem muito baixos. Sem um plano Marshall, a periferia não tem hipótese.

O que seria esse plano?

Seria um investimento massivo proveniente de fundos do centro europeu, mas também know-how, profissionais qualificados, novos mecanismos institucionais. Um cenário diferente para criar capacidade produtiva na periferia e aumentar a produtividade do trabalho. Para isso, é preciso uma mudança de política económica e filosofia económica na Alemanha. A Alemanha criou uma economia que é internamente fraca. As pessoas não percebem isso, pensam que a economia germânica é muito forte. Mas não é. A procura doméstica está permanentemente deprimida, os salários são baixos, as pequenas empresas alemãs têm dificuldades em sobreviver. É uma economia que sobrevive contando dinheiro e gerindo-se de uma forma muito apertada. É muito bem-sucedida no que toca às exportações, porque mantém salários baixos. Este modelo pode resultar para os bancos e grandes empresas na Alemanha, mas não funciona para os cidadãos alemães e certamente não funciona para a união monetária.

Está a dizer que o euro não é apenas mau para a periferia, mas para a própria Alemanha?

Exactamente. O euro foi muito mau para os cidadãos alemães e eles sabem-no. É por isso que não querem fazer sacrifícios. Os alemães viveram durante 15 anos sob uma forte restrição salarial por causa do euro. Por isso, quando se diz que os alemães têm de pagar, eles zangam-se. A Alemanha tem de mudar o seu modelo económico, fortalecendo a procura interna, deixando de prestar tanta atenção às exportações e reequilibrando assim toda a união monetária. Ou seja, é preciso um plano Marshall para a periferia e um reequilíbrio da economia alemã.

Isso bastaria?

Há o primeiro passo essencial: o perdão da dívida. A dívida acumulada na união monetária é enorme, tanto pública como privada. É uma dívida nunca será paga e um enorme fardo sobre a economia. A Europa precisa de se livrar dessa dívida. Há duas maneiras de o fazer: uma é através de uma reestruturação, outra é através da inflação, que gradualmente iria diminuir esse fardo. Além disso, é preciso um sistema bancário unificado na Europa.

Vê os líderes europeus a chegarem a acordo para essas mudanças?

Não. Uma vez que se começa a ir tão fundo, percebe-se quão complicada e difícil seria essa transformação. Realisticamente, não vejo estas mudanças a serem implementadas.

Então o colapso do euro é inevitável?

Acho que alguma espécie de ruptura violenta é inevitável. Que forma irá assumir, não sei. Ninguém sabe, porque, até certo ponto, isso dependerá dos acontecimentos. De quem irá sair primeiro e como.

Mas não teme também as consequências que uma saída do euro teria na Grécia ou em Portugal?

Estou muito preocupado com isso e, de certa forma, também estou muito zangado com as pessoas que criaram este incrível mecanismo e puseram as nações europeias nele, sem pensarem no que significaria sair dele. Sair do euro será muito doloroso, para a Grécia, para Portugal, para Espanha, para quem quer que seja. Se o euro colapsar completamente, será uma catástrofe para a Europa. Por isso, se os líderes europeus têm algum bom senso ainda, devem pensar seriamente em como tornar a saída do euro o mais suave possível. O debate na Europa tem de passar de como resgatar o euro a como gerir uma ruptura ordeira do euro. A Grécia, por exemplo, irá enfrentar grandes problemas se sair: na circulação monetária, nos bancos, que terão de ser nacionalizados, e no comércio, porque não será capaz de comercializar internacionalmente. Irá precisar de ajuda para comprar petróleo, comida, medicamentos. Será um choque enorme. Será um contexto de guerra, mas também já o é neste momento. Se houver algum bom senso, os líderes gregos e europeus têm de começar a falar sobre como organizar essa saída. Mas, infelizmente, acredito que irá acontecer de uma forma violenta e caótica.

Em Portugal também?

Portugal é um pouco diferente. O sistema político é diferente, as pessoas são diferentes, a sociedade portuguesa é diferente. Não é tão de confronto, de oposição como a grega. Mas claro que o problema é fundamentalmente o mesmo. Por isso, se Portugal sair do euro, enfrentará os mesmos problemas. Irá precisar de ajuda. Mas é a única maneira que vejo de estas economias recuperarem. No médio prazo, é a única esperança. Claro que a saída do euro, por si só, não basta. É importante referir isso. A saída é um passo necessário, mas não é suficiente.

O que os países que saírem do euro precisarão?

Irão precisar, claro, de um default na dívida pública. Mas irão também precisar de um programa amplo de reorganização das suas sociedades, o equivalente de um plano Marshall interno. Terão de reorganizar os seus recursos, reequilibrar as suas economias, terão de controlar os bancos e de lançar uma política industrial. A periferia da Europa precisa de reorganizar o seu sector produtivo, apostar em algumas áreas, ligar a produção à educação, reorganizar o Estado social.
PUBLICO  

Merkel cede à Itália e Espanha e desbloqueia pacto de crescimento



O braço de ferro entre os países da zona euro em torno das medidas de protecção da Itália e Espanha da especulação financeira foi ultrapassado na madrugada desta sexta-feira, graças a um acordo entre os respectivos líderes autorizando, em certas condições, os fundos de socorro a comprar dívida dos dois países no mercado e a recapitalizar directamente os bancos.
O acordo foi conseguido durante uma reunião dos líderes dos países do euro que arrancou de forma inesperada às primeiras horas desta sexta-feira, depois de terminado o primeiro de dois dias de uma cimeira dos 27 chefes de Estado ou de Governo da União Europeia (UE).

A reunião entre os 17 do euro só estava prevista para a hora do almoço, depois de concluídos os trabalhos a 27, mas foi antecipada devido ao bloqueio de um acordo sobre o novo pacto de crescimento económico por parte da Itália e Espanha enquanto não obtivessem as medidas pretendidas de protecção contra o contágio da crise da dívida soberana.

Este pacto, exigido pelo novo presidente francês, François Hollande, estava virtualmente acertado entre os 27, antes do início da cimeira, para injectar 120 mil milhões de euros na economia europeia através de empréstimos do Banco Europeu de Investimentos e do orçamento comunitário às pequenas e médias empresas e para a realização de grandes projectos de infra-estruturas, a par da reafectação de fundos comunitários já atribuídos às regiões mais desfavorecidas até 2013, mas ainda não utilizados.

Mario Monti, primeiro-ministro italiano, apoiado pelo homólogo espanhol Mariano Rajoy, bloqueou no entanto o acordo final enquanto não obtivesse o acordo dos parceiros – a começar pela Alemanha – para a utilização dos fundos de socorro (FEEF e ESM) para comprar dívida pública dos dois países no mercado de modo a baixar as elevadas taxas de juro exigidas pelos investidores e que estão em risco de os tornar insolventes.

"Abrimos a possibilidade para os países que se comportarem bem [no plano orçamental] de utilizar os instrumentos de estabilidade financeira para sossegar os mercados e obter de novo alguma estabilidade em torno de alguns títulos de dívida dos nossos Estados membros" afirmou Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, no final da reunião.

Os países interessados terão de subscrever memorandos de entendimento tal como os outros países ajudados (Portugal, Grécia e Irlanda) mas, ao contrário destes, não terão de adoptar medidas adicionais de austeridade nem ficarão submetidos aos controles regulares da troika de credores (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI).

"O processo foi duro, mas o resultado foi bom", afirmou o chefe do Governo italiano no final da reunião.

Rajoy bateu-se em contrapartida, sobretudo, pela possibilidade de recapitalização directa dos bancos sem agravar a dívida pública dos Estados, o que poderá acontecer logo que a zona euro tiver instituído um sistema europeu de supervisão do sector financeiro. Este é um objectivo que os líderes do euro declararam querer concretizar até ao fim do ano no quadro dos primeiros passos de uma união bancária. Madrid poderá vir assim a beneficiar desta possibilidade numa segunda fase do seu programa de ajuda europeia aos bancos, que arranca dentro de poucas semanas.

Ao mesmo tempo, os líderes decidiram retirar ao ESM o estatuto de credor preferencial nos empréstimos à Espanha, de modo a sossegar os mercados financeiros. Com este estatuto, os empréstimos do ESM teriam de ser os primeiros a ser reembolsados por Madrid, o que colocaria os investidores privados na primeira linha de eventuais perdas. Desta forma, todos os credores, públicos e privados, ficarão em pé de igualdade.