10.6.12

Curiosidades de nomes de lugares do Rio de Janeiro


Facchinetti, "Praia de Botafogo", 1868
Está em todos os livros de história e praticamente todo mundo sabe que São Sebastião do Rio de Janeiro foi batizada com este nome porque os portugueses adentraram na Baía de Guanabara e venceram a batalha contra os Tamoios no dia deste santo, quando caía uma chuva insessante. Mas muita gente não sabe a origem do nome de bairros onde moram ou frequentam e de outros lugares da cidade, que algumas vezes são termos curiosos e, que quase sempre estão ligados aos nomes de seus originais proprietários, pois na época da expansão da cidade esta estava dividivda em grandes fazendas e loteamentos particulares, à história do próprio desenvolvimento do local ou mesmo a fatos pitorescos e cômicos.
Seguindo o caminho dos bondes, que partiam do Centro em direção aos bairros que surgiam na expansão urbana da cidade, nossa primeira parada é a Lapa. O Convento de Santa Teresa passou a emprestar seu nome ao monte do Desterro, em cuja encosta foi instalado. Mas essa era uma pretensão do governador responsável pela construção do Aqueduto Carioca, os famosos Arcos da Lapa, que tinha vontade dar seu próprio nome ao monte, mas teve de contentar-se em batizar uma avenida recém aberta, que seria um dos novos acessos ao local. Ela está lá até hoje e ainda leva o nome de Gomes Freire.
Wiegandt, "Rua São Clemente", 1884
Outro importante ponto de parada dos bondes, puxados a burro ou elétricos que seguiam para a zona sul, era o Largo do Machado. A atual praça que leva este nome era antigamente a lagoa do Suruí e em sua margem havia um açougue. Para chamar a atenção da freguesia o comerciante pendurou à porta um enorme machado, símbolo bastante adequado às suas atividades. A lagoa, como tantas outras, foi aterrada e o açougue, extinto. Mas o nome pegou e perdura até hoje.
Algumas histórias curiosas explicam também o nome dado pela população a algumas das mais conhecidas praias do Rio. A do Flamengo, por exemplo, se chama assim devido a um grupo de marinheiros holandeses que se instalou durante algum tempo no local depois que toda tripulação se amotinou contra o cruel comandante do navio que os trouxera. Próximo à Praia do Flamengo existe o Morro da Viúva, que recebeu este nome em 1753 quando faleceu o Sr. Joaquim de Barros, deixando a propriedade para sua viúva. A praia de Botafogo tornou-se um conhecido balneário depois que a D. Carlota Joaquina lá mandou construir uma mansão que era usada como casa de praia.
Depois que a Família Real deixou o Brasil a casa foi adquirida pelo Marquês de Abrantes, que suprimiu o antigo nome de Caminho Novo de Botafogo e batizou com seu nome a rua que dava acesso à enseada de Botafogo, sobrenome de um grande proprietário de terras e chácaras no local. Outro grande proprietário de terrenos naquela parte da cidade era o Sr. Clemente de Matos, muito devoto do santo do qual havia herdado o nome. No estreito caminho que ligava as terras do Sr. Botafogo e do Sr. Clemente de Matos foi erguida, por iniciativa deste último, uma capelinha para São Clemente, o que deu origem à movimentada rua que vai da praia até o largo dos Leões. Em tempos idos, este local era uma chácara pertencente aos irmãos Marques Leão, em cuja entrada havia duas estátuas de leões que, além de ornamento, serviam para identificar a propriedade. Apenas o que restou daquele recanto foi o nome.

Parte II
A praia de Ipanema, hoje uma das mais disputadas pelos banhistas, surfistas e gente que frequenta o lugar somente pela badalação, custou a se tornar um "point", talvez por causa do significado de seu nome, de origem indígena, que quer dizer "água ruim para nadar e pescar". O crescimento do bairro só tomou impulso com a abertura da avenida Vieira Souto e das Praças General Osório e Nossa Senhora da Paz. Do outro lado do canal que fazia a ligação da Lagoa Rodrigo Freitas com o mar existia uma pacata fazenda, cujo último proprietário foi o francês Carlos Le Blum, que se desfez das terras em 1845. Somente em 1930 deu-se início a um loteamente nesta parte da restinga, cujo nome foi adaptado para Leblon.
A origem do nome da praia e do bairo do Copacabana não é nenhuma novidade, a história já foi contada até nas telas do cinema. Todos sabem que se refere à devoção por uma santa peruana cuja imagem foi achada na praia como que por milagre. A curiosidade está na adptação do nome, que de Kjopac Kahuana passou a Copacabana. Outra conversão curiosa é a do nome da ponta do Joá. Com o objetivo de isolar-se, o francês Laurence Anchois comprou terras muito distantes da cidade e logo o local foi batizado de Ponta do Anchois. A dificuldade de pronunciar o nome do francês fez com que os pescadores o rebatizassem para ponta do Chuá, o que foi encurtado e modificado no boca a boca, com o passar do tempo, para Joá.
No final do século XIX só era possível ir de um ponto a outro da cidade de bonde, apesar de muitos ainda se utilizarem de cavalos e charretes. Mas este foi um tipo de transporte bastante eficiente e utilizando-se dele qualquer um podia fazer um delicioso passeio por lugares paradisíacos do Rio, como visitar o espelho d'água da Lagoa Rodrigo de Freitas - mais um entre tantos locais que levam o nome de antigos donos - hoje tombado pelo patrimônio histórico. À margem da lagoa existia um bica que derramava água cristalina e que, acima do pedestal, trazia a inscrição "Fonte da Saudade". Era um ponto de parada para viajantes e para aqueles que cruzavam a cidade, tarefa não muito fácil naqueles dias. Os pescadores da região diziam que quem bebesse daquela água ali sempre voltaria, por isso a inscrição. A única lembrança da velha fonte hoje é o nome gravado na placa da rua paralela à margem da lagoa.
O bairro da Gávea é assim chamado pois, do alto da serra que culmina com uma elevações mais apreciadas do Rio de Janeiro - a Pedra da Gávea - tinha-se uma das vistas mais bonitas da cidade. A serra era procurada por aventureiros que quisessem apreciar esse panorama privilegiado, como se estivessem na gávea do mastro principal de um navio e, dessa comparação, surgiu o nome do bairro. A praia da Gávea, hoje praia de São Conrado, estava dentro das terras do Comendador Conrado Niemeyer, uma fazenda contígua a do senhor Le Blum. O comendador era devoto de São Conrado e em sua propriedade mandou construir uma igrejinha em homenagem ao santo, que ainda existe e encontra-se bem conservada. O nome foi herdado pelo bairro ali edificado depois do loteamento do imenso imóvel.
Para se chegar às terras do comendador era preciso subir e descer pelo o antigo Caminho do Céu, que seguia pelo sopé do Morro Dois Irmãos, pelo lado do mar, até a praia do Vidigal. No finalzinho do século XIX uma das empresas que explorava a circulação de bondes pela cidade iniciou a construção de uma linha férrea que passaria pelo local e seguiria até a Barra da Tijuca e depois até a fazenda de Santa Cruz, sendo o destino final Angra dos Reis. A disputa pela concessão de linhas fez com que a empresa abandonasse a obra, que foi retomada anos depois por iniciativa do colégio Anglo-Brasileiro, recém instalado na Chácara do Vidigal por volta de 1910. A continuação da estrada até a praia da Gávea foi feita em 1915 e paga pelo comendador Conrado Niemeyer. Desde então a estrada passou a ser conhecida como Avenida Niemeyer, um dos pontos turísticos da cidade.
Como se vê, a iniciativa privada sempre esteve à frente da prefeitura na melhoria de obras e serviços públicos. Outros dois nomes aos quais estamos muito acostumados também têm origem em curiosidades que estão ligadas a este pioneirismo de empresas particulares no Rio. A palavra "gari", que denomina o profissional que varre as ruas tem origem no sobrenome de Aleixo Gary, dono da primeira empresa de limpeza e conservação pública, mas de iniciativa privada. O bairro da Urca deve seu nome à empresa Urbanização Carioca, que aterrou e loteou (e batizou!) o bairro, concluindo uma obra que sucessivas prefeituras deixaram abandonada. E essa história de obras inacabadas, o carioca conhece bem.
Fonte: Rio Antigo by Camões; A paisagem carioca

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