10.12.19

Texto - Filomena e as radiações nucleares


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Naquela linda manhã de sol pálido, mas de sol, os sobreviventes iam imergindo, atónitos, ainda pálidos e surpresos de que Deus os não tivesse levado para um Inferno mais atroz ainda que aquele a que, quase por milagre, tinham sobrevivido.

Chamas e fumo por todo o lado… passava-se por cadáveres inertes (claro)... Ninguém bulia, e ninguém sabia o que se tinha passado depois do intenso clarão que escondeu a luz do Sol.


Alem do que a visão humana alcançava, apenas destroços num horizonte azul-metalico…

E aquele ultra-som quase impercetível, acompanhado de odores ácidos…

Pensei de imediato que seria mais uma das asneiras da Filomena; mas, refletindo melhor, cheguei à conclusão que não; é que a Filomena não tinha inteligência suficiente para provocar tamanho cataclismo...

Pois...; a Filomena é apenas uma cetina-parola; jamais poderia ter sido ela a desencadear semelhante catástrofe.

Porque para ela fazer varias coisas ao mesmo tempo já é uma atividade demasiado árdua: imagine só: respirar, andar, dar ordens bacocas aos subalternos que lhe foram alugados e simultaneamente mandar os seus famosos e ostentados “yeaps”…

Decerto foram aprendidos de cor em qualquer pais governado por qualquer “trampa”.

Não sabemos se assim foi; mas contudo é certo que essas onomatopeias provocam a hilaridade de toda e qualquer pessoa que através delas percebe o complexo da pessoa…

Por isso logo pensei: para se ser maquiavélico, tem de haver varias condições "sine qua non": ter-se inteligência, ter-se um cérebro "arrumado", capacidade de síntese e organização/coordenação...Enfim, tudo o de que carece a infeliz criatura...

Assim sendo, jamais poderia ter estado a pobre da Filomena (rendamo-lhe esta singela homenagem), na origem do fim da nossa civilização.

Mas alguém, de facto, tinha premido o botão nuclear.

Encharcado de transpiração tentava imaginar onde me refugiar; entrei no meu automóvel mas nem consegui sair de casa tal era o "engarrafamento" nas estradas de pessoas fugindo a morte...

Já era tarde de mais; a onda de choque tinha-nos invadido acompanhada de um vento quente carregado de átomos loucos no meio de ondas sonoras intensas... Dentro de minutos chegaria o bafo infernal para nos liquidificar, derretendo todos corpos; aos sobreviventes só restava a esperança ténue de poderem sobreviver às mortais radiações...

A palavra de ordem era abrigar-se… Era o "salve-se quem puder"; mas onde?

Não havia mais solução para a vida…

Nem um navio acostado naquele porto nos podia salvar! Ter-se-ia feito algumas miseráveis milhas que já a radioatividade nos teria alcançado.

E a Filomena, palerma, sorria entre “yeaps, yeaps, yeaps…” como se na sua cretinice extrema fosse imune aos "raios que a destrocem…"

Acordei. Acabou o pesadelo...

Não foi desta vez não!

28-11-2016
JoanMira