Um dos monumentos da cidade que merece significativa atenção é a Sé Catedral Santa Maria de Braga, enquanto espaço de culto e de referência artística e que remete para diferentes séculos de história. É como tal um monumento que suscita curiosidade e interesse a todos os que visitam a cidade e o acompanhamento de um guia contribui para a percepção e compreensão dos seus recantos, simbologia, evolução arquitectónica e artística.
A Igreja da Misericórdia não é parte integrante da estrutura da Sé, mas sim um templo independente construído de raiz. Na realidade e até meados do século XVI a Irmandade da Misericórdia, possuía na Sé a Capela de Jesus da Misericórdia, mas que por se revelar demasiado exígua para o culto levou à construção de uma nova igreja adossada aos claustros da Catedral.
Este pormenor arquitectónico que até é representado nalgumas plantas da Catedral , não provoca grande estranheza à vista habituada dos residentes locais, mas causa espanto aos turistas que se interrogam com legitimidade: “mas porque se lembraram de construir uma igreja encostada à Catedral? Não existiria outro lugar para uma nova igreja?” São questões legítimas que os guias se esforçam por explicar da melhor forma possível tentando contextualizar historicamente tal solução construtiva.
A igreja da Misericórdia apresenta fachadas maneiristas, particularmente visíveis através dos portais e sobretudo na fachada principal. Trata-se de um portal-retábulo, a toda a altura da fachada, combinando uma estrutura maneirista com elementos decorativos renascentistas e alguns elementos barrocos introduzidos posteriormente.
É através da fachada lateral que podemos observar com maior precisão a intersecção entre os claustros da Sé e a igreja. A fachada apresenta uma porta de traçado classicizante, mais simples do que o portal principal. No cimo pode ver-se um expressivo e bem moldado conjunto da Visitação. É uma cópia do original fabricado em barro cozido de Coimbra e exposto no Centro Interpretativo das Memórias da Misericórdia de Braga, sito no Palácio do Raio.
Esta disposição peculiar dos dois monumentos deu origem ao ditado popular: “não tentes meter a Sé dentro da Misericórdia” e que significa que não devemos insistir em colocar objecto(s) de grande dimensão onde (já) não há espaço suficiente. Trata-se de uma tarefa impossível de realizar.
É curioso que há turistas que aproveitam também para revelar expressões típicas dos seus lugares de origem e que correspondem ao mesmo sentido, gerando-se, neste âmbito, um interessante intercâmbio cultural. Para afirmarem exactamente o mesmo os lisboetas afirmam: “não tentes meter o Rossio na rua da Betesga”. Os de Fátima referem: “não tentes meter o santuário na capelinha”. Os brasileiros também nos contaram uma expressão relacionada com a cidade de S. Paulo que é enorme e que a tentariam “meter” dentro de uma ruela. Existem com certeza mais expressões curiosas com o mesmo teor. Ficam aqui o exemplo de algumas reproduzidas pelos turistas. Porventura o leitor conhecerá outras…