19.6.12

Texto: E foi feita justica

E FOI FEITA JUSTICA

Naquele ano e noite de graça de Mil novecentos e oitenta e qualquer coisa, estava eu bem pacato e sossegado, no habitual balcão do Tony’s Bar, quando um personagem, de olhos avermelhados, nariz inchado em batata, sorriso cretino, manifestamente muito mais alcoolizado que eu decidiu, investido de crente e divina missão, que devia ser eu o escolhido para, “embrulhar” e desfazer assim as suas magoas.

Naquele balcão comprido eu, que só tinha olhos para a empregada que também era a dona, fui, pouco a pouco, lentamente mas inexoravelmente, com lentas mas  persistentes cotoveladas empurrado sempre em silêncio, até ao limite do suportável e estremo do balcão. Ai chegado e sem espaço para mais, resolvi, conciliante ainda, preocupar-me do porquê daquela  atitude…

Claro que o borracholas só esperava uma palavra minha para por em pratica os seus intentos… Logo ai iniciou grande e violenta verborreia onde, pelo meio, não faltaram nem insultos nem grandes ameaças contra a minha pobre integridade física. Claro que comecei a recear o que certamente me iria acontecer e entendi dever ficar calado.

Mas o brutamontes cuja cabeça, em altura, ficava muitos centímetros acima da minha, entendeu o meu silêncio como uma provocação suplementar; tratou-me de tudo em que a palavra “cobardia” ganhava a todas as outras. Bem, comecei também a ficar um pouco irritado; mas continuando sem nada dizer, aceitando as humilhações no sentido de salvar a pele.

Atento, porém, não deixava de avaliar a situação na esperança de, em desespero de causa, lhe esborrachar a penca… Mas os insultos multiplicavam-se, agora dirigidos aos meus pais e família. Pronto: tinha que ser; não podia continuar sem reacção e virei-me, por fim face à besta. era o que ele esperava e, numa ultima careta, anunciou a agressão…

Preparei a defesa; o animal então, certo da sua brutal vantagem, prepara um murro monstruoso; recua, toma balanço, inclina-se para trás, e vai desferir… mas, talvez efeitos da bebedeira, tanto quis armar, que perde o equilíbrio e cai redondo de costas; bate com os tutelos traseiros no mosaico e vai para o hospital!

Não levei, não esbocei um gesto, não bati, safei-me!

Rio de Janeiro, 18 de Junho de 2012.

JMIRA 

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