A polícia militar no Rio de Janeiro, que parece seguir uma estratégia de “disparar primeiro e fazer perguntas depois”, está a contribuir para um aumento na taxa de homicídios mas só raramente a sua conduta é investigada e julgada, avalia a Amnistia Internacional ao publicar um novo relatório que analisa novas estatísticas exclusivas e inéditas sobre as mortes decorrentes de intervenção policial, quando está prestes a iniciar-se a contagem decrescente de um ano até aos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.
- O Brasil tem uma das mais elevadas taxas de homicídios do mundo: 56.000 pessoas foram mortas em 2012
- Em 2012, mais de 50% das vítimas de homicídios tinham entre 15 e 29 anos e 77% eram negros
- Foram registados 8.471 casos de mortes às mãos de polícias em serviço no estado do Rio de Janeiro, incluindo 5.132 só na cidade do Rio de Janeiro, entre 2005 e 2014
- O número de mortes ocorridas às mãos da polícia que foram classificadas como “resistência seguida de morte” no Rio de Janeiro equivale a quase 16% do total dos homicídios que aconteceram na cidade nos últimos cinco anos
- Das 220 investigações abertas em 2011 no Rio de Janeiro a casos de mortes pela polícia apenas uma resultou em acusações formuladas contra o agente; e em abril de 2015, 183 investigações continuavam em aberto
O novo relatório, publicado esta segunda-feira, 3 de agosto – e intitulado “Você matou meu filho! - Homicídios cometidos pela polícia militar no Rio de Janeiro” –, revela que pelo menos 16% do total de homicídios registados na cidade nos últimos cinco anos ocorreram às mãos de polícias em serviço: são 1.519 mortes. Só na favela de Acari, na zona norte do Rio de Janeiro, a Amnistia Internacional apurou indícios que sugerem fortemente a ocorrência de execuções extrajudiciais em pelo menos 9 em cada dez mortes causadas pela polícia militar em 2014.
“O Rio de Janeiro é ‘um conto de duas cidades’. Por um lado há o brilho e o glamour criados para impressionar o mundo e, por outro lado, uma cidade marcada por intervenções policiais repressivas que estão a dizimar uma parte significativa de uma geração de homens jovens, negros e pobres”, frisa o diretor-executivo da Amnistia Internacional Brasil, Atila Roque. “A estratégia falhada do Brasil na ‘guerra às drogas’ para solucionar a muito real crise de segurança no país está a produzir enormes efeitos negativos e a deixar na sua esteira um rasto de sofrimento e devastação”, avança...
Amnistia Internacional - Portugal
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